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O senso religioso espontaneamente se manifesta no ser humano sob a forma de admiração e sentimento de dependência. Daí, no limiar da experiência espiritual, ser frequente a prevalência da oração de petição. Com a melhor das intenções, na verdade, corremos o grave risco de degradar Deus a instrumento de nossos mesquinhos objetivos: saúde, segurança, livramento, poder, pedir por familiares e pessoas amigas, conquistas materiais, bem estar, etc.
À medida que amadurecemos na fé e passamos além do sentimento religioso, deve dar-se progresso no processo espiritual. Mediante o testemunho central das Escrituras, e por convencimento da experiência interior, que é obra do que, na linguagem cristã, chamamos de Espírito Santo, passamos a perceber que Deus Se comunica a nós como relação de comunhão e nos assimila a Si. Ou seja, já não importa, ou importa muito menos, o que Deus “faça por nós”, que corresponda a nossos interesses. Ele vai deixando de ser instrumento em favor de nossas causas e vai-Se revelando, Ele mesmo, como objetivo, e nós é que nos pomos humildemente a Seu serviço para sermos instrumentos de Seus interesses junto às pessoas e no mundo. Passamos, assim, da petição à gratidão e à doação. Importa sobretudo Ele mesmo como nosso grande e definitivo amor.
A “vida interior” vai passando a ser experimentada como a realidade mais viva, embora ainda encoberta pelo real aparente das circunstâncias deste mundo. Aqui , uma certa razão para a corrente platônica quando alude à Verdade e às sombras… É por isso que se torna mais fácil e menos traumático estar disponível a dar a própria vida, quer seja pelo extremo gesto do martírio, quer pelo sacrifício generoso, alegre e constante do quotidiano. É quando alguém já “caminha como se visse o Invisível”, como se diz de Moisés na Carta aos Hebreus (cf. Hb 11, 27).
Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….
Imagem enviada pelo autor.