1 de maio de 2018
1 – Domingo do Bom Pastor
João 10,11-18
“Autoridade”: uma palavra que costuma soar positivamente aos ouvidos, seja dos “autoritários”, seja dos “subservientes”.
Os primeiros, estufam o peito, achando-se no direito de enxergar os demais do alto da sua soberba, sem duvidar de pisá-los, se assim precisarem ou puderem, para mais facilmente atingir seus interesses… Os últimos, por falta de dignidade, por como-dismo, ou para angariar míseros favores, se dobram às imposições e humilhações dos primeiros…
O fato é que o povo que conhecia Jesus o admirava “porque Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os douto-res da Lei” (Mc 1,22).
O vocábulo “autoridade” vem de “autor”, que por sua vez, vem de um verbo latino que significa “aumentar”, crescer, fazer crescer. A verdadeira autoridade, então, não provém de cargos, de posses ou de saberes, mas da capacidade de fazer crescer. Quem enriquece a realidade com alguma criação ou contribuição positiva, mas sobretudo quem contribui para o crescimento das pessoas… essa pessoa cresce aos olhos das demais pessoas, e passa a gozar, perante elas do prestígio da verdadeira autoridade.
É assim que o “Bom Pastor” se distingue dos “mercenários”, dos que só pensam e só cuidam dos interesses pessoais, das pró-prias vantagens e privilégios, do dinheiro, e até se incomodam com o crescimento dos demais. O Bom Pastor” tem o reconheci-mento agradecido e obsequioso das “ove-lhas” porque cuida delas com amor, é capaz de correr riscos para defendê-las, e até de dar a vida por elas.
Jesus ressuscitado se apresenta hoje a nós como nosso “Bom Pastor”.
Ele nos apresenta suas credenciais e espe-ra de nós confiança na sua autêntica autoridade e fidelidade no seu seguimento. Ele nos oferece os critérios claros, tanto para nós nos avaliarmos nossa relação com as demais pessoas, quanto para avaliarmos as demais pessoas na sua relação conosco, sobretudo quem ocupa cargos, possui rique-zas ou acumula conhecimentos.
Nosso canto, hoje, é um canto de admira-ção por Alguém que, ora está presente, ora faz muita falta, tanto no seio das famílias, como no âmbito da sociedade, em suas vá-rias instâncias: alguém, que goza da autoridade do Bom Pastor.
Não sem razão, o 35º. Encontro Diocesano de CEBs da Diocese de Guaxupé MG, no próximo final de semana, tem como tema: “PODRES PODERES NA POLÍTICA E NA IGREJA”.
E como lema:
“ENTRE VOCÊS NÃO DEVE SER ASSIM”
E como será mesmo que essa história acontece no meio da gente?…
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Alguém foi condenado e está preso em Curitiba. Por toda parte no país milhares e milhares de pessoas se manifestam contra esta prisão e se solidarizam com este prisioneiro.
Nas proximidades do cárcere da Polícia Federal, onde ele se encontra, em Curitiba, centenas de pessoas vindas de toda parte do país e até do exterior se revezam em vigília permanente, protestando, orando, cantando, em favor deste prisioneiro.
Governadores, senadores e deputados vêm visitá-lo, e até um agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esqui-vel, da Argentina, está fazendo uma cam-panha para que este prisioneiro receba também este prêmio. Que “crime” terá ele cometido para gozar de tanto prestigio e autoridade?… Alguma semelhança com o “crime” do Bom Pastor?…
2 – Domingo da Videira e dos Ramos
João 15,1-8
Vivemos numa sociedade fluida, onde tudo muda continuamente, no ritmo frenético do mercado, do consumismo, da moda, do sucesso do momento. E a gente, a todo instante, corre o risco de ir na onda… Já não encontramos outro prazer e interesse, já não temos outro objetivo senão consumir. Alguém observou, que nesse ritmo, sem nos darmos conta, nós mesmo estamos virando mercadoria, artigo de compra e venda, pois o mercado nos disputa, nos compra e nos vende a todo instante, enquanto consumidores manipuláveis.
E dizem que a Religião vem se tornando o negócio mais vantajoso do sistema capitalista. Pelo jeito, como as coisas estão acontecendo em muitas Igrejas, parece que é isso mesmo. Fala-se até de “marketing religioso”…
O Ressuscitado, com quem, hoje, viemo- nos encontrar convida-nos a fortalecer nossa identidade: sermos pessoas cristãs unidas intimamente a ele, o Cristo, feito os galhos de uma árvore, unidos ao tronco.
Somente assim, em meio à onda do mercado, teremos um objetivo maior na vida, e força para resistir… Vivificados pela seiva que vem desse tronco divino, daremos os frutos do Reino, viveremos, no tempo, aqui e agora, valores eternos: o Amor, a Justiça, o Bem…
Enquanto isso, muita gente anda levando uma vida sem consistência, ora no afã insaciável de consumir, ora no tédio, no vazio, na frustração… Já não alimentam um sonho maior, um ideal grandioso, uma causa nobre, a esperança de um mundo diferente, de irmandade e paz entre todas as pessoas. Não será por isso que jovens do mundo “desenvolvido” estão indo em busca, por exemplo, do “Estado Islâmico”… ou então, se suicidam?…
O testemunho cristão, vivido na radicalidade do Evangelho, não poderia sugerir alguma coisa diferente a essa gente jovem, sedenta e generosa?…
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Estes dias que antecedem o 1º. de Maio, em alguns lugares, ensejam a realização da SEMANA DA CLASSE TRABALHADORA: eventos diversos, como panfletagem, debates, manifestações em ruas e praças, celebrações cívicas e religiosas… A pergunta é: Onde estarão as trabalhadoras e trabalhadores cristãos nesses dias?… Participando desses eventos, engajados nas lutas da Classe Trabalhadora?… Sua Fé Cristã tem sido força de militância?… Através do seu testemunho, os valores do Reino anunciado por Jesus estão penetrando essa sociedade escandalosa-mente desigual e violenta, e a transfor-mando?… Se não está sendo assim, que pensar desses “ramos”?… Estarão realmente unidos à “Verdadeira Videira”…
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<<A qualquer pessoa que seja demasiado apegada às coisas materiais ou ao espelho, a quem ama o dinheiro, os banquetes exube-rantes, as casas sumptuosas, roupas de mar-ca, carros de luxo, aconselharia que com-preenda o que está a acontecer no seu cora-ção e que reze a Deus para que o liberte des-tes laços. Mas, parafraseando o ex-presiden-te latino-americano que está aqui, todo aque-le que seja apegado a estas coisas, por favor, que não entre na política, não entre numa organização social ou num movimento popu-lar, porque causaria muitos danos a si mes-mo, ao próximo e sujaria a nobre causa que empreendeu. (…) Diante da tentação da corrupção, não há remédio melhor do que a austeridade, a austeridade moral, pessoal: e praticar a austeridade é, ainda mais, pregar com o exemplo. Peço-vos que não subesti-meis o valor do exemplo porque tem mais força do que mil palavras, mil panfletos, (…) mil vídeos no youtube>> Papa Francisco,
Discurso aos Movimentos Populares,
3º. Encontro, Vaticano, 5/11/2016
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).
