Foi assim! Cada dia aquele pássaro aparecia sempre a mesma hora, e dava seu espetáculo; acredito que para mim. Cantava, fazia movimentos rápidos e se mandava por entre os galhos. Fui me apaixonando, colocando tomatinho, água, folha de alface, tentando retribuir sua amizade. Deu certo, ele passou a permanecer um pouco mais. Entusiasmada com o feito, passei a sussurrar baixinho canções antigas. Da primeira vez, ele assustou-se afastando-se ligeiro, mas voltando de mansinho. A rotina estava completa. Esforçava-me para comparecer aqueles encontros. Um dia porém, ele tardou mai veio. Veio silencioso e triste e nem cantou… O que teria sido? Não consegui também cantar pra ele. No nosso último encontro ele atravessou a grade e veio a mim.
– Fitou-me tristemente, abriu as asas o que pode, tentou gorjear e nos meus braços, sucumbiu. Fiquei ali alguns instantes… Era uma dor sincera, a perda de um ser puro, sem malícia alguma, dando o melhor de si para mim. Sua asa bem perto ao peito, estava ferida. Nada pude fazer.
Dele, restou uma pena colorida e manchada de sangue. Em mim, ficou só lembranças.
Hoje, outros pássaros vêem, voam, cantam, gorjeiam, mas não para mim.