Ina Melo 1 de abril de 2018

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Uyará vivia fascinado pelo grande rio. Desde menino, gostava de se embrenhar pela mata adentro, entre troncos caídos e cipós, passando horas inteiras sentado na beira do rio fitando as águas negras. Algo de forte o atraía.
A mãe, certa vez, lhe chamou para contar a história do seu nascimento. Ela viera para aldeia pesquisar a vida dos índios Curupus, apaixonou-se pelo trabalho e por um belo espécime da raça selvagem.
Quando sentiu as dores do parto numa noite de chuvas e trovoadas, foi levada numa canoa para a aldeia. Antes de chegarem, sob uma lua cheia o menino nasceu. A velha índia que os esperava não sabia contar como tudo acontecera, dizia na crendice natural dos nativos, que fora a mãe d’água quem ajudara no parto.
Uyará criou-se com os índios, seguindo os seus costumes. Aos dois anos nadava como um peixe e não podia ver água, saía com o pai para pescar longe das margens e nunca teve medo. Aos quinze anos, manejava a canoa correndo a imensidão do Rio Negro fazendo pequenos trabalhos.
Alto, de pele cor de azeitona, cabelos negros e lisos, ele só parecia com a mãe, pelos olhos verdes e rasgados: Olhos de cobra, como diziam as mulheres da aldeia. Aprendeu a ler e escrever, mas se recusava a estudar na cidade grande, dizia que o seu mundo era ali, junto ao rio.
Numa bela noite de lua saiu para pescar e seguiu rio afora. Quando deu por si não podia voltar. Parou numa das pequenas ilhotas de areias brancas e deitou-se para esperar o dia, fitando fascinado as águas negras. Algo muito forte o impelia a entrar no rio.
Acreditava nas lendas e sabia que a noite enfeitiçava os mortais. Levantou-se e viu uma bela jovem de mãos estendidas para ele. Cabelos verdes e longos cobriam-lhe o corpo moreno. Sorrindo chamou-o para si abraçando-o fortemente, ele sentiu o vigor palpitante da mulher e numa atração mágica seus lábios se uniram num longo beijo.
Amaram-se com intensidade e Uyará, aprendeu os mistérios do sexo tornando-se um homem de verdade. Ao amanhecer, voltou para aldeia. Desde então, apaixonado pela Yara, mulher das águas, todas as noite de lua cheia corria para o rio em busca da amada. (Praia de Boa Viagem/2002.)

(Para Yara Farias, amiga querida da juventude)

Obs: Imagem enviada pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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