De fato, a proposta do não crescimento parece própria para um mundo mergulhado no consumo como é a Europa e Estados Unidos da América. Sem dúvida, para todos os continentes e para cada ser humano, vale a proposta do cientista social Serge Latouche dos oito R: Reavaliar, Reconceituar, Reestruturar, Redistribuir, Redimensionar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Não se trata de voltar ao passado, nem de condenar qualquer forma de progresso, mas de compreender que o atual modelo de desenvolvimento, baseado no petróleo, na exploração da natureza e na competição entre as pessoas está falido e nos conduzirá à catástrofe. Cada dia, fica mais claro que o inimigo maior de nossa civilização não é o terrorismo de grupos fanáticos, por mais perigosos que estes possam ser. É a destruição ecológica. Precisaríamos de três planetas Terra para suportar a exploração que o modelo civilizador capitalista comete contra a vida. Não se trata de ser contra o desenvolvimento social e econômico e sim de priorizar a sustentabilidade. Em função disso, é preciso optar por um modelo de vida mais sóbria e simples, assim como é urgente organizar a sociedade de forma mais igualitária e humana.
No atual processo social latino-americano, antigas tradições vindas das culturas indígenas têm ajudado em pontos nos quais o velho academicismo ocidental parece não compreender adequadamente. Conforme Boaventura de Sousa Santos, grande mestre contemporâneo: “Sem dúvida, é difícil para a ciência sociológica ocidental compreender a concepção política e econômica do suma kawsat do povo Quétchua ou do suma qamaña dos Aymara nos países andinos. Conforme o professor Boaventura de Sousa Santos, esta concepção oriunda das sociedades indígenas significa o bom viver, hoje consignados nas Constituições do Equador e da Bolívia, com as suas concepções múltiplas de governo e de democracia – democracia representativa, participativa e comunitária”[1].
Ser feliz é não somente o direito, mas um dever de todo ser humano. A tradição cristã fala de um santo asceta que, ao morrer, soube que, antes de ir ao céu, deveria se purificar no purgatório. Mas, pensava ele, purificar-se de que? Por que não ia direto ao céu? Conforme a lenda, São Pedro lhe respondeu: “Por que, em sua vida, você não fez o esforço suficiente para ser feliz”.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
[1] – BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, Por que é que Cuba se transformou num problema difícil para a Esquerda? In Le Monde Diplomatique, Brasil, Cadernos da América Latina, maio 2009, p. 02.