A minh’alma tem sede de DEUS!

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Uma história contada por Anthony de Mello mostra, de maneira simples, muito bela e muito profunda, que precisamos de Deus como do ar que respiramos. Um camponês aproximou-se de um sannyasi (um beato hindu) que estava meditando à sombra de uma árvore e lhe disse: “Quero  ver Deus. Diga-me como posso experimentá-lo”. O sannyasi não disse uma palavra e continuou meditando. O camponês voltou no dia seguinte com o mesmo pedido, e no outro dia, e no outro, e no outro, sem que obtivesse resposta. Vendo sua perseverança, o beato lhe disse: “Você parece ser um verdadeiro buscador de Deus. Esta tarde descerei ao rio para tomar banho. Venha ao meu encontro lá”. Quando se encontraram no rio, o sannyasi pegou o camponês pelo pescoço, afundou a cabeça dele na água e o  segurou assim por algum tempo, enquanto o pobre homem lutava desesperadamente para tirar a cabeça da água. Depois de soltá-lo, o sannyasi lhe disse: “Venha ver-me amanhã junto da árvore. Quando, no dia seguinte, o camponês foi ao encontro do sannyasi este lhe perguntou: “Diga-me por que lutava daquele jeito quando eu segurava sua cabeça debaixo da água?”. “Porque queria respirar para não morrer”, respondeu o camponês. O beato sorriu e disse: “No dia em que você desejar a Deus com a mesma ânsia com que queria respirar, nesse dia o encontrará, sem dúvida alguma”.

 Também em nosso contexto cultural, a razão pela qual não encontramos e não experimentamos a Deus é porque não o buscamos apaixonadamente. E não o buscamos porque achamos que não precisamos dele como precisamos do ar que respiramos. Temos tantas coisas a fazer, tantos projetos a executar, tantos desejos a satisfazer, estamos tão anestesiados pela busca do ter, do poder, do prazer, que pensamos poder dispensar, prescindir de Deus em nossa vida.

 Santo Agostinho, o homem do “coração inquieto”, continua sendo um modelo para a busca de Deus em nossos dias. Depois de ter experimentado a inquietude, o vazio e a infelicidade da ausência de Deus, Agostinho experimentou a felicidade e a paz que nos são dadas quando fazemos a experiência do encontro com Ele. No fim do primeiro parágrafo das Confissões, expressou sua experiência com uma frase de uma densidade e de uma beleza insuperáveis: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração estará sempre inquieto até que descanse em ti”.

Como sabemos, São Bento coloca a busca de Deus como primeira característica vocacional do candidato que chega ao mosteiro: “Que haja solicitude em ver se procura verdadeiramente a Deus” (RB 58,7). E as nossas Constituições retoma: “A característica fundamental da nossa forma de vida é a busca de Deus em comunidade, sob ‘Regra e Abade’ (Const. I,3).

Na verdade, Deus nos criou para a comunhão com Ele. Porque é nossa origem e nosso fim, nosso princípio e nosso fundamento, Deus é a única fonte capaz de saciar a nossa sede infinita de amor, de comunhão, de felicidade, de eternidade. Mas porque nos criou livres, respeita a nossa liberdade porque um amor que não é livre não é amor: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20).

Queremos vivenciar esses dias de busca e de encontro especial com Deus inspiradas e orientadas pela Liturgia.  E, mais uma vez, voltamos a São Bento e encontramos a segunda característica vocacional que ele coloca para quem se apresenta ao mosteiro: “se é solícito para com o Ofício Divino” (RB 58,7). Vemos, pois, que São Bento tem grande zelo pelo Ofício Divino e a nossa presença e participação consciente no mesmo, o que podemos estender à liturgia em geral: “e tal seja a nossa presença na salmodia, que nossa mente concorde com nossa voz” (RB 19,7). Recordamos ainda uma passagem da Regra Beneditina: “Na hora do Ofício Divino, logo que for ouvido o sinal, deixando tudo que estiver nas mãos, corra-se com toda a pressa, mas com gravidade, para que a escurrilidade não encontre incentivo. Portanto, nada se anteponha ao Ofício Divino” (RB 43,1-3).

 Concluamos este momento com as palavras de Paulo em duas de suas cartas: “Enchei-vos do Espírito: entoai juntos salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e salmodiai ao Senhor de todo o coração” (Ef 5,18-19). E ainda: “Movidos pela graça, cantai a Deus em vossos corações, com salmos, hinos e cânticos inspirados pelo Espírito” (Cl 3,16).

Obs: O texto acima foi uma proposta de reflexão realizado em um retiro bíblico-litúrgico.

Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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