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O mês de setembro é considerado pelos católicos como o Mês da Bíblia. Cursos,debates, liturgias, são desenvolvidos em muitos âmbitos, para aprofundar essa reflexão.

Não se pode desconhecer a disputa entre ciência e religião pela posse da verdade.Galileu representa um desses momentos representativos dessa “cruzada”.Já no século XIX encontramos Darwin com a teoria da evolução. Parecia que o fosso entre as duas realidades estava se tornando intransponível. Nas últimas décadas a Bíblia passa a ser alvo de ciências como a filologia, a arqueologia e a história. E os cientistas têm trazido à tona que o livro mais importante, e mais lido, da história da humanidade tem uma leitura cultural, mítica e sócio-histórica, que independe da fé.

Das ciências que estudam a Bíblia, a arqueologia tem sido a mais promissora. “Ela é a única que fornece dados novos”, diz o arqueólogo israelense Israel Finkestein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Telaviv e autor do livro A Bíblia Desenterrada.

Essa obra causou um grande impacto nos estudiosos da arqueologia bíblica, por que reduz os relatos do antigo testamento a uma coleção de abordagens lendárias, míticas, epopéias literárias, etc. A arqueologia, nesse caso, serve para compor um cenário entre as várias teorias. A ciência também enveredou no novo testamento, embora o campo de batalha esteja mais ligado à filologia. Os três evangelhos chamados “sinóticos”, o que pode se entendido como “ os que têm o mesmo ponto de vista”, contam a mesma história, o que seria uma prova de que os fatos realmente aconteceram. Mas os dados não se reduzem a essa simplicidade. Os relatos do novo testamento não foram escritos pelos apóstolos, como se pensava, mas por seus seguidores, décadas após a morte de Cristo. Os cristãos eram perseguidos e ameaçados. Havia o perigo da memória da fé desaparecer, se não fosse colocada no papel. Marcos é o primeiro deles e que serviu de base para Lucas e Mateus. Mas ele tem particularidades especiais. O historiador e arqueólogo André Chevitarese afirma que “em Marcos Jesus é uma figura estranha que precisa fazer rituais de ‘magia’ para conseguir um milagre”.

Um dos recursos para enxergar o Jesus histórico através das camadas de traduções aplicadas ao novo testamento, foi os pesquisadores voltaram-se para os textos que a Igreja repudiou nos primeiros séculos. São os “apócrifos”, que não se sabe ao certo quem os escreveu, mas que dão uma visão “popular” . Em 1945 esses textos foram encontrados em cavernas do Egito. O curioso é que os evangelhos estavam escritos em copta. São textos comprovadamente provenientes dos primeiros séculos do cristianismo. Os coptas fundaram a igreja cristã etíope e foram considerados hereges pois não aceitavam a dupla natureza de Cristo ( Ele teria somente a divina e não também a humana).Mas mesmo assim, eles trazem elementos para elucidar o Jesus histórico. As descobertas do Mar Morto, em 1947, trouxeram outras expectativas de elucidação.

Voltando à preocupação com o antigo testamento, no livro do Gênesis, a história do Dilúvio é uma das poucas que ainda alimenta o interesse dos cientistas, depois que os físicos substituíram a criação do mundo pela teoria do Big Bang e Darwuin substituiu Adão pelo macaco. O que intrigou os pesquisadores foi o fato de uma história parecida com a do Dilúvio existir no texto épico babilônico de Gilgamesh. Lá é citada uma enchente de enormes proporções que também poderia ter acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor.Parte do mistério foi solucionado quando os filólogos conseguiram demonstrar que a narrativa do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico.O povo hebreu teria entrado em contato com o mito de Gilgamesh no século VI a.C.Nessa época, o rei babilônico Nabucodonosor, depois de conquistar a Assíria, invadiu e destruiu Jerusalém. Os judeus foram para o exílio babilônico que durou 40 anos. Eles voltaram à terra pátria somente pelas mãos de Ciro, em 538 a. C., o fundador do Império Persa. Os escribas judeus, em contato com essa cultura, no exílio, fizeram uma “transposição espiritual” daquele fato, dando uma interpretação religiosa: 40 dias de chuva, 40 anos de exílio, etc.Solucionado o mistério do Dilúvio na Bíblia, continuou o da sua origem no texto de Gilgamesh. No final dos anos 90 , dois geólogos americanos da Universidade de Colúmbia, Walter Pittman e Willian Ryan, criaram uma hipótese: por volta do ano 5600 a. C., ao final da era glacial, o Mar Mediterrâneo havia atingido o seu nível máximo e ameaçava invadir o interior da Ásia na região hoje ocupada pela Turquia. Num evento catastrófico, o Mediterrâneo irrompeu através do Estreito de Bósforo, dando origem ao Mar Morto como o conhecemos hoje.

Fica da Bíblia o fato de ser o livro mais lido e procurado do mundo. São muitas as abordagens que a circundam. A da fé está associada ao fato de ser o elo que liga os cristãos nas suas muitas expressões históricas. Que ela possa ser fator de mais unidade entre os cristãos.

Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da Uneb, Faculdade 2 de Julho, da Cairu, Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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