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Foi o Bruno, um querido ex-aluno da Escola Viva, que me fez lembrar essa passagem, passados mais de 20 anos:
Ele e a Simone tinham brigado no recreio, porque ela, vindo correndo, deu-lhe um forte empurrão, que o fez cair e machucar-se.
Muito zangado, o Bruno quis revidar e a professora não deixou. Empurra, não empurra, ninguém queria ouvir, nem se desculpar e, não conseguindo se acalmar, foram levados até minha sala, para uma conversa mais séria. E aí a lembrança dele é preciosa:
“Eu me lembro da tia Inez, atrás daquela mesa grande e de ver a boca dela abrindo e fechando e a voz dela, forte e rouca, perguntando assim:
– Bruno, você acha que a Simone te empurrou de propósito ou sem querer?
Na mesma hora – diz o Bruno – eu me dei conta da diferença. E respondi:
– Sem querer.
E, então, a briga perdeu o sentido.”
Quando li, na Internet, a mensagem onde o Bruno contava essa historinha, fiquei muito emocionada. Pensei em como nós, adultos, nos aborrecemos tanto porque não paramos para pensar na diferença entre as atitudes que nos magoam e que podem ter sido tomadas de propósito ou sem querer.
Eu não me lembrava desse fato (um, entre milhares, em 16 anos de funcionamento da Escola), mas fiquei muito contente em ter tido, àquela época, a sabedoria de dar a resposta espontânea e simples, mas tão cheia de bom senso, reconheço. Agora, eu a recebia, de volta, como lição, vinda daquele que um dia fora o aluno… Vida que segue e retorna.
Mas, hoje, me lembro disso por conta do Felipão, o técnico de futebol. Li no jornal a notícia de que ele perdeu a cabeça e a razão, revidando, a agressão verbal que recebeu, com agressão física. Desolado e arrependido pelo momento de descontrole, veio a público se desculpar. Humano, demasiadamente humano, Felipão ensina o caminho do recuar para acertar o passo. Belo gesto de educador, que só o engrandece!
Associo imediatamente essa passagem a uma outra, quando o ex-jogador Roberto Dinamite foi desrespeitado pelo desastrado Eurico Miranda. Roberto foi impedido, na presença do filho, que o acompanhava, de ter acesso ao lugar que lhe cabia (por direito de honra, conquistado nos muitos anos de total dedicação ao clube que sempre representou com orgulho), para assistir um jogo de futebol, ali, em sua “casa”, o Estádio do Vasco.
Sem perder a elegância, Roberto retirou-se magoado. À noite, entrevistado pela televisão a respeito do episódio,ele, emocionou-se publicamente, chegando às lágrimas, demonstrando, sem vergonha ou temor, seu genuíno sentimento de profunda tristeza pelo fato ocorrido.
Naquela hora, o craque ensinava que sentir é parte do processo de se tornar um verdadeiro ídolo. E se igualava a seus torcedores, na dor da injustiça sofrida, com a mesma intensidade com que fizera isso na alegria e no êxtase de inúmeras vitórias, anteriormente.
São passagens do heroísmo cotidiano, que constrói.