O dia cinzento anunciava o lenga-lenga do tempo. As nuvens escuras venciam a timidez do sol, o qual de vez em quando raiava em um brilho amarelado e sem graça. Prevaleciam as cores cinza e amarelo, dando ao céu um tom perolado. Como nunca havia visto igual. Em espaços de horas, a água rápida e impetuosa descia de súbito, acompanhada de relâmpagos e trovoadas, avisando que assim permaneceria por uma série ininterrupta de instantes eternos.
Enquanto a água descia, olhava pela janela, tentando imaginar como seria se o sol estivesse vencendo naquela luta diária pelo tempo. Crianças estariam na calçada brincando… Pessoas sadias estariam ocupando seus lugares no trabalho. Ao invés de lotarem hospitais levados por “influenzias mils”. Culpa de suínos? Quem sabe, não daqueles próprios da família dos suídeos, mas sim daqueles que na escala evolutiva permanecem ronronando em seus chiqueiros e lamaçais de ganâncias ambientais.
O aguaceiro continuava descendo do céu… No canto do muro, como que, encurralado por algum construtor de moradas. Jazia inerte um ralo branco e encardido. Ao seu redor formava uma pequena circunferência daquele líquido insípido e transparente. Pensava… Do céu caem pequeninas gotas cristalinas como pérolas raras… Algumas têm sorte de caírem em plantações, jardins e rostos. Outras simplesmente caem por terra… Enquanto a maioria escorre pelos ralos e acaba em esgotos misturando-se a detritos… E pensar que eram como pérolas…
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Pequenos Contos Poéticos de Maria Inês Simões
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Obs: Imagem da autora.