Padre Beto 15 de dezembro de 2017

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Em 1905, Sabina, uma jovem russa que sofre de histeria, recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique. Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung, aproveita o caso para aplicar as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos, ela volta à Rússia, tornando-se também psicanalista e montando a primeira creche que usa noções de psicanálise para crianças. No filme “Jornada da Alma”, Roberto Faenza não somente resgata a memória histórica da psicanálise, mas nos mostra como podemos estar sujeitos às emoções e impulsos de nosso inconsciente.

A descrição apocalíptica de Mateus 25, 31-46 deve ser compreendida não como uma previsão do fim dos tempos, mas como uma alegoria sobre uma decisão que de devemos tomar diariamente. O cristão precisa decidir continuar a ser um Adão ou se tornar um verdadeiro Cristo. Para Paulo, a diferença é muito clara: como Adão todos morrem, assim também em Cristo todos viverão (1 Coríntios 15, 22). Ser um Adão significa permanecer na morte, pois esta condição representa uma vida sem liberdade e simplesmente conduzida pelas circunstâncias. Se prestarmos bem atenção na história narrada pelo Gênesis, Adão é aquele que age impulsionado pela sedução, portanto, sem liberdade, e depois não consegue assumir a responsabilidade diante de sua ação: “A mulher que puseste junto de mim me deu da árvore, e eu comi!” (Gn 3, 12).

Continuar a ser Adão é permanecer sendo movido pelas situações e pelos impulsos internos, sem conquistar a liberdade de filho de Deus. Fazer a opção de ser um Cristo é fazer a opção pela transcendência em busca do amadurecimento, em busca da liberdade. Mas, é necessário compreender que a liberdade não é algo que simplesmente se tem, mas principalmente algo que se conquista, algo que se constrói através de nossas atitudes, comportamentos e decisões concretas. Nós compreendemos isso quando olhamos para a história de nosso país. Nós vivemos vários anos sob uma ditadura militar e, apesar de muitas pessoas terem sido torturadas e mortas a liberdade, não foi uma conquista popular. A liberdade democrática nos foi entregue pelos militares, pois não possuíam mais competência para gerir o país em crise. Fomos jogados na liberdade democrática e até hoje estamos lutando para aprender a viver nesta liberdade, ou melhor, para dar valor a esta liberdade. Hoje, o brasileiro ainda não compreende que viver em liberdade exige respeito mútuo, interesse pelo bem público e democratização de setores importantes como a educação, saúde e meios de comunicação de massa. Isso porque não conquistamos a nossa liberdade, não lutamos por ela, nós não a construímos. Conquistar a liberdade e ser um Cristo é, em primeiro lugar, saber discernir entre a morte e a vida para todos e fazer a opção pela última. Diante de cada situação, preciso fazer a opção pela vida e pela vida de todos. “Pois, eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidaste de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt. 25, 35-36). Fazendo esta opção pela vida de todos, o próximo passo é tomar consciência das situações diárias: conhecer os objetivos que pretendo alcançar diante de cada situação; conhecer meus desejos internos e até inconscientes que me levam ter um determinado comportamento; reconhecer o momento certo para agir ou tomar uma decisão e conhecer as consequências de minhas decisões; e finalmente tomar conhecimento de que não basta saber que devemos ser pela vida, mas se faz necessário que meu profundo “querer” me leve a um agir concreto. Existem pessoas que vivem em um mundo platônico, sempre falando que desejam fazer e desejam falar, mas nunca fazem ou falam realmente. Se procuro diariamente tomar consciência do que sou e do que estou fazendo diante das situações, caminho na direção da transformação da vida, no caminho da ressurreição, ou seja, da completude da vida para todos. Esta vivência da liberdade para a ressurreição exige não somente atitudes diante de pessoas concretas, mas principalmente diante das estruturas. São necessárias sim ações que ajudem os mais necessitados a terem uma vida digna, mas são primordiais ao mesmo tempo ações que modifiquem as estruturas e transformem a sociedade em um espaço de vida para todos. Agir conforme o Cristo não é somente estar aberto à necessidade imediata de quem me aparece, mas construir uma sociedade que ofereça a todos trabalho e estudo para que todos possam viver dignamente com alimentação e moradia, uma sociedade que possa receber o estrangeiro com dignidade e segurança, uma política de saúde pública que seja preventiva e hospitais que atendam as necessidades dos doentes e, por fim, penitenciárias que realmente dêem condições para uma verdadeira reabilitação de quem cometeu algum crime. Desta forma, estamos dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, sendo hospitaleiros com os estrangeiros, visitando os doentes e os detentos através da estrutura estatal que é sustentada com nosso dinheiro e deveria com este servir com eficiência o Bem Comum. O Cristo glorioso virá sim, a partir do momento que todo ser humano agir conforme o Cristo histórico agiu. Assim, a nossa vida se eterniza verdadeiramente.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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