14 de outubro de 2009
Era assim que Dante Alighieri, na sua Divina Comédia chamava ao “poverello” de Assis. E completava: ”E quem quiser falar desse lugar, não diga mais Assis. Seria muito pouco. Mas diga: Oriente, isto é, onde o sol nasce“. (Paraíso, Canto XI, 28-66).
Muitas vezes foi sublinhada na literatura, a perfeita correspondência entre a paisagem de Assis e o santo que fez conhecer seu nome até os confins do universo. Ninguém poderia negar que ele está totalmente identificado com a velha terra da Umbria.
Assis é uma cidade sedutora. Ela se estende sobre o contraforte do Monte Subásio, ao pé da torre de controle (uma fortaleza), banhada por uma luz diáfana que vem da região umbra. Ela não faz muito esforço para harmonizar seu valor ao de um gênio de homem, como uma visão de paz celestial. O visitante, ou peregrino, logo ao dar os primeiros passos nas ruas medievais, descobre essa verdade, e, sobretudo, na Praça da Prefeitura (Piazza Del Comune), onde encontra a grande basílica do santo. É importante frisar que no tempo de Francisco, esse local era reservado para a execução e local de sepultamento dos piores criminosos – foi lá, no meio deles, que Francisco quis ser sepultado. Hoje é o ponto de chegada, por excelência, da cidade. Composta por uma concepção arquitetônica singular, a basílica de S. Francisco e o Convento dos Frades Menores, estão localizados ao oeste de Assis, como a proa de um navio. O conjunto é composto por duas igrejas superpostas. Na igreja superior encontram-se os vinte e oito afrescos de Giotto, e dos seus discípulos, que narram a vida do santo. A igreja inferior oferece um vivo contraste com a superior. Lá encontra-se o túmulo de Francisco, e de alguns dos seus irmãos, com pinturas de Cimabue retratando o santo, e as de Martini apresentam Stª Clara – é célebre o afresco das Núpcias de Francisco com a Dama Pobreza. O roteiro é simplesmente percorrer as ruas estreitas, subindo e descendo as escadas ornadas de casas com fachadas austeras, geralmente de pedra da região. Ali o tempo para e tem-se a impressão que nos encontramos numa cidade em plena Idade Média. A beleza de Assis brota da região, mas também da arquitetura tão admiravelmente adaptada àquele sistema de vida.
Sem sombra de dúvidas, é Francisco o santo que mais reproduziu, quase que literalmente, a vida de Jesus. Desde o dia em que ele ouviu na igreja de S. Damião: ”Vai e restaura a minha igreja em ruína”, até o dia em que, no Alverne, recebeu os estigmas da Paixão, ele não teve outra preocupação que colocar-se nos passos de Jesus para viver a máxima das Bem-Aventuranças: ”Felizes os pobres…”.
Alegria e pobreza, simplicidade de coração, ternura e compaixão por todas as pessoas, e por todas as criaturas (“irmão lobo…”), tal foi o segredo da felicidade que ele ensinou a seus irmãos e irmãs, a mensagem que ele transmitiu permanentemente durante toda a vida.
Esse caminho encontrou uma expressão maior naquela tradicional “Oração de S. Francisco”. Essa oração tem uma história. Ela foi elaborada durante a Primeira Guerra Mundial por um anônimo da Normandia, super fã de S. Francisco, de quem colheu as principais palavras e o espírito desse santo. Mas o fez de forma tão fiel que se transformou na oração do próprio S. Francisco. A sua notoriedade deveu-se ao fato de ter sido publicada no jornal do Vaticano “Osservatore Romano”, em 16 de janeiro de 1916. A partir desse momento, ela ganhou o mundo inteiro, como uma oração de busca de paz. Hoje ela ultrapassou os muros do catolicismo e do próprio cristianismo, pois é proclamada em muitos encontros ecumênicos e de religiões não cristãs. Até aqueles que não professam credo nenhum, mas que são humanitários, têm uma identificação com ela.
A oração da Missa de S. Francisco, diz assim: ”Ó Deus, que destes a Francisco de Assis, levar uma vida humilde e pobre, imagem do próprio Cristo, faz-nos tomar o mesmo caminho para seguir teu Filho, e viver unidos a Ti, cheios de alegria e caridade”.
Sebastião Heber. Prof. adjunto da Uneb, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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