www.defesadafe.org

O mundo, a cada dia, amanhece mais estranho: furacões, guerras, crises econômicas, governos incrivelmente corruptos, etc. Há sete anos, mais ou menos, tive a oportunidade de assistir a uma palestra do economista Lester Thurow, do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ele falava sobre o argumento do seu livro “The Future of Capitalism: how today’s economic forces shape tomorrow’s world” —  “O futuro do capitalismo: como as forças econômicas de hoje moldam o mundo de amanhã” —, o qual, à propósito, pode ser comprado atualmente por menos de meio dólar nos sebos dos EUA.

Os argumentos de Thurow, já naquela época, marcaram-me bastante e, hoje em dia, ainda me impressionam pela propriedade das palavras daquele autor e da relevância delas para a compreensão do cenário mundial. Thurow, na tentativa de entender os elementos subjacentes ao capitalismo, apresentou alguns fatos interessantes e, depois, expôs a sua teoria que os explicava. Os referidos fatos devem ser entendidos como sintomas de uma mudança, de uma ruptura brusca, como aquelas que mudam definitivamente o rumo da história. A extinção dos dinossauros; a presença de César e, muito depois, a de Napoleão; a invenção do trem a vapor, que levou o homem do cavalo (meio mais rápido de transporte antes da Revolução Industrial) para os mais de 100 km/h do trem a vapor, entre tantas outras, são exemplos que Thurow equipara a ruptura econômica que apresenta.

O primeiro fato importante constatado por Thurow foi o de que o crescimento do PIB anual do mundo diminuiu progressivamente, chegando, inclusive, a valores negativos nos anos 90. Em números, vemos que o PIB mundial/ano cresceu 5% nos anos 60; 3,5%, nos 70; 2,8%, nos 80; e caiu 2%, nos 90. Pode-se dizer, assim, que de meados dos anos 60 até o início do final do século, o capitalismo perdeu 50% de sua força, mesmo que tenha gradativamente se estabelecido como opção adotada por todas as nações democráticas.

O segundo fato levantado por Thurow foi o de que a Europa Ocidental, que foi a maior economia do mundo nos quase primeiros três quartos do século passado, encerrou-o com 50% mais de trabalhadores que os EUA. Mas, como os 40 milhões de empregos gerados pelos EUA na segunda metade do século foram muito mais do que conseguiu gerar a Europa, esta atingiu os anos 90 com o dobro de taxa de desemprego dos EUA, quando, poucos anos antes, detinha a metade.

O terceiro fato digno de nota por Thurow é o de que a economia do Japão, altamente próspera no pós-guerra, manteve-se inerte nos anos 90. Com efeito, o desemprego no Japão cresceu muito e o japonês terminou o século 30% mais pobre. Na análise de Thurow, a crise que abateu o Japão no final do século foi maior que a americana nos terríveis anos 30 (mais especificamente, dos anos 29 ao 32).

O quarto fato é que, no período compreendido entre os anos 1973 e 1995, o PIB real per capita nos EUA cresceu 36%, ao passo que o salário de 80% dos seus empregados (exceto altos funcionários) caiu 14% em média.

O quinto fato importante concerne à crise mexicana. Thurow lembra que no verão de 1994, Carlos Salinas, presidente mexicano de 1988 a 1994, foi aclamado um herói e, seis meses depois, vê-se o presidente Salinas acusado de tráfico de drogas. Ademais, como reitera Thurow, os mexicanos perdem mais de 1 milhão de empregos e 4 milhões de mexicanos passam a trabalhar apenas meio expediente. Em resumo, o nível de vida de uma família de classe média no México caiu 50%, aproximadamente.

Para Thurow, esses fatos são sintomas, basicamente, das seguintes causas: o fim do comunismo, a mudança tecnológica, o desequilíbrio demográfico, o desenvolvimento de uma economia global fortemente baseada nos meios de transporte e comunicação e, por fim, em que pese os EUA, ausência de uma força econômica global inquestionável e duradoura, que pudesse realmente ditar as regras.

Atualmente, diante deste cenário que o fim de século nos presenteou, temos a confirmação de um ambiente veementemente complexo, pois não há mais lugar para o capitalismo tradicionalmente definido, havendo, assim, imperiosa necessidade de se estabelecer novas regras para o capital e de se elegerem para os cargos de governo homens e mulheres de concepção liberal, já que restou definitivamente comprovado que os governos de esquerda são absolutamente incompetentes para gerir a coisa pública em ambientes democráticos e, creio, ninguém está disposto a abrir mão da democracia. (19.10.2005)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]