Minha solidão se entristece no amadurecer da luz da tarde nas paredes da sala. Com seus ruídos e silêncios, logo a noite chegará e eu me sinto envelhecida neste país pútrido.
Cruel o tempo a perpassar por minhas mãos. Cruel cada segundo a carcomer os cômodos dessa imensa casa, agora, vazia de ti. Tudo se faz ruína em mim.
Meu único acalanto é te buscar em minhas lembranças, no tecido pantanoso da passagem das coisas, nas fotografias espalhadas pelos recantos de nosso morar. Nalguma parte de meu corpo ainda moras.
Sonho e tu me acolhes entre teus risos. Eu era jovem em tua pele. O amanhecer me inventava e todas as estações se tornavam um júbilo pela casa inteira. O anoitecer era apenas o natural movimento do planeta em torno do sol, em volta de nós. O país parecia esperança.
Branda a noite a invadir a janela e se deitar na sala. Repouso em teus cabelos dentro dessas esparsas memórias. Já não sei lágrimas nem melancolias.
Sorrio com o passar das horas e encontro teus dedos entre os meus. Sou acolhida e acolho teu corpo. Minha solidão mais parece um destino do que escolha. E saio a caminhar pela noite desse meu perigoso país.