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  1. DO JOIO E DO TRIGO

Sb 12,13.16-19 – Mateus 13,24-43

O mundo é um campo imenso, onde há lugar para tudo e para todos, bons e maus. A vida é um processo, onde tudo é possível, inclusive, o mal e a morte.

Fácil, mas superficial e irresponsável, é a atitude de quem vê tudo em preto e branco, e se apressa em querer separar o joio do trigo, condenar os erros e os errados, em nome, de uma sociedade de bons e corretos, de uma igreja de justos e santos.

Difícil e exigente é agir com espírito de discernimento e paciência histórica, em meio a todas as contradições da existência, das pessoas e da História.

Mas somente assim seremos seguidores d’Aquele que veio como médico para os “doentes”, e filhos daquele Pai que faz chover sobre bons e maus.

Com certeza, nos alegraremos com as surpresas que a História e o Espírito nos preparam, cada semana, e teremos razões para caminhar, e para cantar o Mistério da Fé.

* * * * *

Esta parábola de Jesus, talvez nunca tenha sido tão atual quanto nestes últimos dias. Imagino que muita gente indignada com o que está acontecendo tenha pensado em tocar fogo no Congresso, incendiado o Palácio do Planalto, em Brasília, ou a sede da Justiça Federal, em Curitiba.

Mas será que não dá para enxergar algum sinal de esperança, por exemplo, na atitude das mulheres senadoras que, por seis horas, ocuparam a mesa do Senado, tentando barrar a maldita “Reforma Trabalhista”?…

Não dá para sentir a força do vento das mudanças nas manifestações e protestos que estão tomando conta das ruas, tentando desmascarar os desvios e desmandos dos 3 Poderes da República, utilizados por uma corja de agentes do sistema opressor, para aniquilar de vez os sonhos dos empobrecidos e as lutas da Classe Trabalhadora?…

Mas, enquanto repudiamos o terrorismo dos impacientes, não é hora já de nós cristãos e cristãs nos engajarmos, decididamente, nas lutas de todo o povo, em nome do Reino da Justiça e da Paz?…

Somente assim, poderemos orar honestamente ao Pai do Céu, pedindo que seu Reino “venha a nós” e sua vontade “seja feita”, “assim na terra como no céu”.

  1. DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Mateus 17,1-9

É dia de subir a montanha para receber a revelação do Cristo transfigurado e sonhar com o brilho 

de uma vida transformada,

de um mundo novo!

É tempo de escutar o testemunho dos profetas que nos anunciam o êxodo,

a libertação!

É tempo de escutar a voz do Pai,

que nos manda levar a sério seu Filho muito querido!

A caminho de Jerusalém, a Nova Cidade, a Cidade da Paz, o futuro dos nossos sonhos, com Jesus, nosso Mestre, transfigurado, animemo-nos uns aos outros!

E, por esses dias, quanto a gente precisa dessa animação que nos vem do brilho do Cristo transfigurado!

Mas, não adiemos nossos sonhos de transformação para depois da morte.

Somos discípulos e discípulas de *JESUS*, que nos ensinou a pedir a Papai do Céu que o seu Reino “venha a nós”, que sua vontade seja feita “assim na terra como no céu”!

O brilho da Transfiguração, que anuncia o brilho definitivo da Ressurreição, precisa irradiar-se, aqui e agora, de nossas vidas transformadas, de uma sociedade radicalmente renovada, de um mundo diferente.

E aqui vale, sobretudo para a Classe Trabalhadora, o clássico poema de Brecht:

Nada é impossível mudar

 Desconfiai do mais trivial,

na aparência singelo.

E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

 Pois, em tempo de desordem sangrenta,

de confusão organizada,

de arbitrariedade consciente,

de humanidade desumanizada,

nada deve parecer natural,

nada deve parecer impossível de mudar.

*

  1. DA TEMPESTADE ACALMADA
    Mateus 14,22-33

Nos mares da vida…

Quem já não fez, em algum momento de sua vida, a experiência desafiante de sentir-se em meio a ondas de um mar agitado, a ponto de afogar-se?…

Pode ter sido uma experiência individual, pode ter sido uma experiência coletiva… Há momentos em que até quem nos vem ao encontro para ajudar, parece um fantasma, tal é nossa angústia, nosso embaraço…

Este é, porém, o momento da fé, por excelência: o momento de experimentar a verdade fundamental do Deus que está sempre conosco; de poder discernir sua presença nas pessoas e nos acontecimentos, apesar dos pesares; do acreditar que, não obstante o poder do mal, “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.

E sentiremos, aos poucos, se fazer a bonança, e, na celebração dominical, especialmente, escutaremos de novo Aquele que nos vem dizer: “A paz esteja com vocês!”.

E nossa fé ganhará um novo alento, e nosso canto, uma nova vibração.

                                                                             * * * * * * *

Na verdade, o sentimento de muita gente, na atual conjuntura, tem sido de perplexidade, de não saber por onde, quando não, de total impotência…

Neste domingo, 13 de agosto, por sinal, a fé nos vem em socorro. E como precisamos, mais do que nunca, desse socorro que nos vem da fé. Com certeza, não, para nos acomodarmos num “deixa como está, pra ver com é que fica”… Mas, com a certeza da presença de Alguém mais, nos sentirmos fortalecidos para exercer a ousadia da fé, e nos colocarmos, com todos os lutadores e lutadoras do povo, em toda e qualquer frente de luta, cada qual, conforme sua experiência, seus dons, suas especialidades, suas potencialidades, atendendo ao “chamado” da História e do Deus da História. “Sem ódio e sem medo”, como se dizia, um tempo atrás.

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE. 
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).   

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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