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           Participando de diversos momentos de reflexão sobre o Concílio Ecumênico, neste ano em que se comemora o seu jubileu de ouro, tenho não só a alegria de ver tanta gente interessada no assunto, mas também a satisfação do reencontro com tantos amigos, como aconteceu nesta semana em Porto Alegre, e em Caxias do Sul.

          Agradeço o convite para estar presente no Simpósio Teológico promovido pela PUC em Porto Alegre, e na Semana Teológica de Caxias do Sul.

          Diante do auditório repleto, era visível a satisfação de D. Paulo Moretto, bispo emérito de Caxias do Sul.  Suas breves intervenções foram mais do que oportunas.

          Antes mesmo de começar a sessão, vendo tanta gente chegando para a palestra, Dom Paulo Moretto expressou sua análise, com sua costumeira sabedoria, acompanhada de saboroso bom humor.

           Alertou que os tempos estão mudando. E muita gente está voltando a buscar novas motivações, percebendo o valor de cultivar uma sadia espiritualidade, com reflexos positivos na subjetividade das pessoas, que assim se sentem mais fortalecidas em sua própria identidade.

           Foi aí que D. Moretto temperou sua análise com seu apurado senso de humor. Observou ele que, tempos atrás, a preguiça era considerada “pecado capital”, pois favorecia o desdobramento de outros pecados, em decorrência de sua maldade, que era preciso combater.

          Agora, a preguiça deixou de ser pecado capital. E passou esta condição para a pressa.

           Pois no contexto de pós modernidade em que nos encontramos, todo mundo vive sempre com pressa, atropelado por tantas coisas a fazer. Não sobra tempo para mais nada. E todos acham que o requisito da felicidade é dar conta de todas as solicitações agendadas. Com isto, o que antes parecia virtude, traduzida em laboriosidade, acabou se tornando vício, pela obsessão de fazer sempre mais, para ter mais, e acabar se iludindo mais!

            E o que antes parecia vício, traduzido em ócio,em decorrência da preguiça, agora começa a despontar como virtude, de quem relativiza o fazer, para refletir e assimilar melhor os verdadeiros valores que a vida apresenta.

         Desta maneira, a preguiça teria passado sua condição de pecado capital para a pressa! A pressa de ganhar mais do que os outros, de passar os outros para trás, de gastar a vida buscando coisas que em vez de ajudar, acabam prejudicando a verdadeira realização das pessoas.

          Em todo o caso, não só pelo bom humor de D. Moretto,  mas também pelo grande interesse suscitado pela memória do Concílio, parece que vai se firmando um novo  fenômeno promissor, de busca de espiritualidade, fundada sobre uma vivência mais consciente dos valores humanos e cristãos.

        Não precisamos estigmatizar nem a preguiça nem a pressa. Contanto que saibamos colocar nosso empenho pessoal em fazer o que mais nos identifica e nos realiza, que é o desafio de acolher dentro de nós a dimensão do mistério da vida, como somos capazes de fazer; Contanto que empenhemos nisto o melhor dos nossos esforços. Pois cultivar uma verdadeira espiritualidade é mais desafiador, e mais complicado, do que preencher nossa vida  fazendo coisas que em nada nos qualificam.

       Assim, nem preguiça,  nem pressa exagerada!  Mas o equilíbrio de quem descobriu o verdadeiro sentido da vida! (17.06.12)

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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