Num balaio de cipó seco, numa feira animada, encontrei dentro dele, bem a vista dos olhos, coisas misturadas, como laranja mimo, maçãs, pepinos, pimenta malagueta, arruda, uma arrupemba, galhos de comigo ninguém pode, alho e uma garrafa de água benta. Mistura mais eclética, impossível.
Pois bem, peguei a arrupemba, peneirei meus pensamentos, escorreu muita coisa, que sumiu ralo abaixo, acrescentei ao que restou o sumo das laranjas mimosas e tomei, fiquei doce igual elas. Com tentação, mordi a maçã e me reportei a pecados cometidos, no início da criação do mundo. Fui tentada a fazer você pecar comigo, levá-lo a delícias mil, porém, antes, teria que lhe dar um banho de água benta, esfregar com arruda e alho, seu corpo cheio de quebranto e quizilas.
Depois, sacudir você num tacho de sal grosso, pendurar e deixar secar, ao vento, para que nenhum passe seja dado a você e assim, livre de feitiços, retorne, apimentado e limpo de tralhas, tramas, tramelas, mais traquina que nunca, sem modelo inovador, mais mudado que antes, pensando no outono que nos chega, num abrir e fechar de olhos.