
O papel se apresentava em duas folhas, unidas, cheio, nos quatro lados, de linhas. Dizia-se papel pautado, como, também, papel de prova, porque dele a gente se utilizava para fazer as provas, a começar do curso primário, passando pelo ginasial, até a conclusão do clássico. De 1958, quando passei a usá-lo, até 1968, ano em que conclui o clássico, o papel pautado esteve em moda. Se ocorresse festa, para entrega a todos os alunos, das provas, com a respectiva nota, se colocava uma fita, geralmente verde e amarela, dava-se um laço, no que se constituía num requinte para a enfeitar a prova. Afinal, o adorno fazia esquecer a monotonia das linhas pretas no papel branco.
Do primário, só me lembro de uma festa assim, num domingo pela manhã, na escola de d. Maria de Branquinha. Ano: 1959. Ao receber minha prova, ganhei um beijo da professora, flagrante que um fotógrafo captou. Guardo a foto. Aquele foi meu melhor ano no primário, ano, inclusive, em que, em momento algum, experimentei a palmatória nas mãos. Talvez por causa da minha grande atuação e, principalmente, da foto, é que a entrega de prova naquele ano abafou a dos demais, ou seja, 1958, quando fui reprovado no segundo ano primário por não ter acertado a conta de dividir; 1960 e. enfim, 1961, quando completei o primário. Não me lembro se nestes três anos, ocorreu a entrega das provas. Do que me vem à memória, no último ano, d. Maria de Branquinha reuniu, à noite, em sua casa, os alunos do quarto ano, eu, Bosco, Djalmira, Maria das Graças, e quem mais, meu Deus?! Não ocorreu nenhuma sessão solene.
No ginásio e no clássico, tenho absoluta certeza, nunca se realizou uma só solenidade destinada a entrega das provas no final do ano. Primeiro, porque ocorriam oito provas por ano, uma em cada mês. Ao chegar em dezembro, já se sabia quem estava passado e, dos que não estavam, de quanto precisariam. No primário, era diferente. Só existia uma prova, em dezembro, e pronto. Quem passou, passou, quem não passou, repetia o ano, como eu fiz em 1959.
A monotonia daqueles tempos, na sagrada repetição dos livros, os mais novos aproveitando os livros dos irmãos mais velhos, a trilogia da terminologia dos cursos – primário, ginásio e científico/clássico, – não cansava nem causava mal algum. Depois, excluíram o clássico, imperdoável delito praticado quando eu já não frequentava mais os bancos escolares. Adiante, alteraram os nomes para cursos disso e daquilo, que nunca me acostumei a chamar. Agora, pensa-se em outra alteração, cujo teor não sei. O meu receio é que as mudanças sejam, como tem sido sempre, para pior. Como a cantiga da perua. De qualquer forma, como motivo maior da modernização, oxalá o papel de prova volte a ser exigido, com a força da lei . (12 de novembro de 2016)
Obs: Publicado no Correio de Sergipe
[email protected]
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.