[email protected]
rastrosliterarios.blogspot.com
Você se lembra do dia em que seu filho nasceu? Mais ou menos, não é? Você estava ocupado. Muito ocupado. Não podia sair um minuto daquele escritório para ir à maternidade.
Você não sabe com que peso e medida ele nasceu. Esses dados não tinham importância para você. Ele nasceu com 50 centímetros, pesou 3 quilos e 525 gramas. Um menino bonito, saudável. O mais paparicado da maternidade.
Você se lembra de quantas vezes trocou a fralda dele? Quantas vezes deu banho nele? Se gostava de chupeta? Quantas vezes você tentou de todas as maneiras abrandar as cólicas terríveis que se asseveravam nas madrugadas? Quantas? Nenhuma! Você trabalhava, trabalhava, trabalhava… precisava dormir para, no outro dia, colher mais diamantes.
Você se lembra de quando ele engatinhou pela primeira vez? Quando ensaiou a primeira palavra? Quando nasceu o primeiro dentinho? Quando deu o primeiro passo? Não, você não se lembra.
E do primeiro dia de aula? Da primeira professora? Daquela letrinha insegura que foi se aperfeiçoando? Daquele desenho que fez da família? Você se lembra dele trancado no quarto, estudando? Quantas vezes você o ajudou na compreensão de alguma disciplina?
Você se lembra de quando a voz dele começou a se tornar grave? De quando os primeiros fios de bigode começaram a brotar? Da primeira namorada? Lembra-se de quantas vezes ele o procurou querendo conselhos? Não, você não se lembra. Seus olhos severos sempre intimidaram qualquer tentativa de aproximação.
Pois é. O tempo passou e você não participou da vida dele. Você perdeu, perdeu valiosos diamantes.
(Maurício Cavalheiro – in: “O último apito do trem”)
Obs: O autor é membro da Academia Pindamonhagabense de Letras é autor de: Lágrimas de Amor – poesia; O sapinho jogador de futebol – infantil; O estuprador de velhinhas & outros casos – contos; Histórias de uma índia puri – infanto-juvenil; O casamento do Conde Fá com a Princesa do Norte, e Um caso de amor na Parada Vovó Laurinda – cordéis.
Imagem enviada pelo autor