15 de junho de 2017
Em homenagem a F. Heredua
- Sinais de profeta, missionário e militante popular… é a clareza de rumo e missão e estar colado à sorte e ânimo de seu povo. “O poeta deve estar, lá onde o povo está”, pois, só é referência popular “quem traz no peito, o cheiro e a cor de sua terra, a marca de seus mortos e a luta de seus vivos”. O “pastor” nunca rompe a aliança com o rebanho, não fala dialeto alienado, nem se torna “casta” que em vez de servir, se serve dos pobres.
- Causa espanto que, nesta conjuntura de assalto aos direitos econômicos, sociais e políticos, duramente conquistados, o povo trabalhador parece não se mexer. É fácil ver que ele vai priorizar o imediato – comida, emoção, distração, catarse. O cotidiano não lhe revela a dimensão histórica nem o horizonte da utopia, próprio de quem aprendeu a sonhar. Na sua batalha diária pela sobrevivência, mal chega em casa para desmaiar.
- Quando a militância se insere, no meio do povo, vê que seu comportamento faz sentido. Não sabe que é, que pode rebelar-se e que pode decidir, se entrega ao fatalismo e ao carpe diem para ser feliz, ao menos agora. Sua vida absurda se parece com a de Sísifo da mitologia, condenado a repetir a tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha e que voltava, ao ponto de partida, invalidando seu duro esforço.
- Luiz Gonzaga disse que cantava música de protesto porque “não posso aceitar essa vida cachorra que leva meu povo”. Mas, o zelo pela multidão silenciada nas periferias é mais que a santa indignação. É a crença na massa como a única força capaz de revolucionar a sociedade de exploração, se essa força de trabalho se tornar sujeito político. Ela é fim e a razão pela qual se entregam, ontem e hoje, uma legião de militantes, e visionários.
- “A psique das massas contém sempre em si o mar eterno, todas as possibilidades latentes: mortal calmaria e enfurecida tempestade, baixa covardia e selvagem heroísmo… Belo capitão seria quem orientasse seu curso, só pelo aspecto momentâneo da superfície das águas e não concluísse, a partir dos sinais do céu e das profundezas, que a tempestade se aproxima… A decepção com as massas é sempre o mais vergonhoso testemunho para um dirigente político…” (LUXEMBURGO, R.)
- Não raro, pessoas e projetos, largam a convicção de que a base social é raiz, força e manutenção do poder popular. Há 30 anos, predomina a visão assistencialista, elitista e oportunista na sociedade, igrejas e movimentos que vê o povo só como fieis clientes, consumidores e votantes. O campo está pronto, mas faltam operários que ajudem o rebanho sem pastor a saltar do reino da necessidade para o reino da liberdade.
- A tarefa político-educativa é ajudar a classe que trabalha a assumir-se como sujeito político como força potencial para decidir uma nova ordem social. A condição do trabalho é meter-se numa base social real, com a intenção de sua emancipação, sendo cumplice nessa trajetória de auscultar, despertar a autoestima e a consciência da realidade, reunir e contribuir na qualificação do povo para a edificação da convivência livre e feliz.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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