Em homenagem a F. Heredua

  1. Sinais de profeta, missionário e militante popular… é a clareza de rumo e missão e estar colado à sorte e ânimo de seu povo. “O poeta deve estar, lá onde o povo está”, pois, só é referência popular “quem traz no peito, o cheiro e a cor de sua terra, a marca de seus mortos e a luta de seus vivos”. O “pastor” nunca rompe a aliança com o rebanho, não fala dialeto alienado, nem se torna “casta” que em vez de servir, se serve dos pobres.
  2. Causa espanto que, nesta conjuntura de assalto aos direitos econômicos, sociais e políticos, duramente conquistados, o povo trabalhador parece não se mexer. É fácil ver que ele vai priorizar o imediato – comida, emoção, distração, catarse. O cotidiano não lhe revela a dimensão histórica nem o horizonte da utopia, próprio de quem aprendeu a sonhar. Na sua batalha diária pela sobrevivência, mal chega em casa para desmaiar.
  3. Quando a militância se insere, no meio do povo, vê que seu comportamento faz sentido. Não sabe que é, que pode rebelar-se e que pode decidir, se entrega ao fatalismo e ao carpe diem para ser feliz, ao menos agora. Sua vida absurda se parece com a de Sísifo da mitologia, condenado a repetir a tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha e que voltava, ao ponto de partida, invalidando seu duro esforço.
  4. Luiz Gonzaga disse que cantava música de protesto porque “não posso aceitar essa vida cachorra que leva meu povo”. Mas, o zelo pela multidão silenciada nas periferias é mais que a santa indignação. É a crença na massa como a única força capaz de revolucionar a sociedade de exploração, se essa força de trabalho se tornar sujeito político. Ela é fim e a razão pela qual se entregam, ontem e hoje, uma legião de militantes, e visionários.
  5. “A psique das massas contém sempre em si o mar eterno, todas as possibilidades latentes: mortal calmaria e enfurecida tempestade, baixa covardia e selvagem heroísmo… Belo capitão seria quem orientasse seu curso, só pelo aspecto momentâneo da superfície das águas e não concluísse, a partir dos sinais do céu e das profundezas, que a tempestade se aproxima… A decepção com as massas é sempre o mais vergonhoso testemunho para um dirigente político…” (LUXEMBURGO, R.)
  6. Não raro, pessoas e projetos, largam a convicção de que a base social é raiz, força e manutenção do poder popular. Há 30 anos, predomina a visão assistencialista, elitista e oportunista na sociedade, igrejas e movimentos que vê o povo só como fieis clientes, consumidores e votantes. O campo está pronto, mas faltam operários que ajudem o rebanho sem pastor a saltar do reino da necessidade para o reino da liberdade.
  7. A tarefa político-educativa é ajudar a classe que trabalha a assumir-se como sujeito político como força potencial para decidir uma nova ordem social. A condição do trabalho é meter-se numa base social real, com a intenção de sua emancipação, sendo cumplice nessa trajetória de auscultar, despertar a autoestima e a consciência da realidade, reunir e contribuir na qualificação do povo para a edificação da convivência livre e feliz.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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