1. Ouvi dizer que toda forma de cultura – música, dança, teatro, pintura – deve ser a manifestação entusiasmada de uma vitória alcançada, ainda que em sinal. E a arte seria a busca ansiosa para partilhar o vulcão de alegria ou de buscas que invadem a alma das pessoas.
2. As festas de fim de ano, apesar dos 500 anos, ainda representam a canalização do entusiasmo e das explicações de outra cultura. Elas foram introjetadas, na alma brasileira, pela força e pelo hábito, como imposição cultural, para fins de domínio, conquista e comércio.
3. O povo bem que tentou incorporar essas importações – auto de natal, pastorinhas – dando-lhe um colorido tropical. Mas, foi sempre visto como algo marginal e folclórico. O que domina é o papai Noel recriado pela Coca-cola, com trenó, neve, rena e a mercantilização dos presentes.
4. As festas não brotam ‘natural’ como o São João reinventado e temperado com o sabor nativo. Os símbolos e festejos parecem ocos, já não traduzem a gratidão pela fartura da colheita, nem o anúncio cristão de uma nova ordem onde quem trabalha não come o pão de ninguém.
5. Mas, não basta bradar com Aldemar Paiva (Monólogo de Natal): “Não gosto de você Papai Noel. Também não gosto desse seu papel de vender ilusões pra burguesia. Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia”.
6. Toda indignação legítima é justa, porém, a denúncia não pode ser o centro de nossa crença. A vida é viver e anunciar a vida. Só os pastores da noite e os que lêem nas entrelinhas, ao viver a contradição sem a ela se render, são capazes de perceber a Esperança, seguindo sua estrela.
7. Hoje, é um tempo de buscas. A iluminação dos shoppings centers e presépios atraem a multidão à procura. Ansiosa e à deriva, ela se aglomera, corre atrás da miragem consumista e enche a praça de alimentação. O rebanho, por ínvios caminhos, estaria atrás da Vida Fraterna?