(Recordando antigas lições)
Tudo o que é caduquice, velharia, velho (inclusive velhacos) … deve ser esquecido e até sepultado. Outra coisa são as antigas lições tiradas da prática social, vivenciada pelos povos que, ao experimentá-las, sobre elas refletiram e elaboraram afirmações. Estas permanecem novas e trans-históricas, enquanto método, orientação e ensinamento.
1.É surpreendente que um apresentador e vários atores, no horário nobre, de uma emissora que confessou sua ligação com o regime autoritário, conclame a população para ir às ruas protestar contra a corrupção explícita do governo corrupto. Quem fez um cesto, faz um cento e quando a esmola é grande o santo desconfia. Mudança ou ameaça a seu capital?
2.Diante da resistência de Troia, a inteligência do império grego armou uma cilada – um cavalo de presente. Em vão alertou o visionário Laocoonte – ego timeo danaos et dona ferentes (eu temo os gregos e os que trazem presentes, de grego, é claro!). A crença na “bondade” e na “conversão” do inimigo foi determinante para a derrota da cidade.
3.Muita gente se entusiasma com a amplitude da aliança contra uma autoridade ilegítima e traidora. Bem que tal “mudança” pode ser um “risco calculado”… A panela de ferro propõe juntar-se à panela de barro apostando na fragilidade do rebanho sem pastor. A burguesia já usou trabalhadores para derrubar a odiada nobreza. Depois… repressão cruel!
4.Há 30 anos, o campo popular, encantado com a via eleitoral e com as amplas alianças, abandonou a construção da força própria, indispensável na conquista do poder. Seu bem-intencionado programa de melhorias, ao não politizar, fez clientes, consumidores e votantes que voltam para casa, na primeira chuva ou, iludidos, engrossam as fileiras da reação.
5.Ulisses mandou que o amarrassem no mastro do navio para não cair no canto da sereia. Se pode e se deve “surfar” nas ondas da conjuntura quando se tem clareza dos sonhos, do rumo, do projeto… quando se tem claro o inimigo principal, os aliados estratégicos e pontuais, nessa tarefa de reforçar um lado, combater o inimigo e neutralizar indecisos…
6.Ter poder é ter força para decidir na sociedade. A lição, antiga e sempre nova, recorda que é preciso estar: a) colado ao povo; b) com clareza do rumo; c) com força própria, preparada para atuar em qualquer conjuntura; d) tornar-se referência que gere unidade e força social; e) exercer o poder compartilhado; f) ter postura moral, individual/coletiva, intocável…
7.Todo espaço pode ser posto de atuação da nova ordem social. Isto foi possível quando em cada escola, bairro, fábrica, sítio, igreja, hospital, hotel, empresa, administração pública… havia o núcleo de militantes capaz de ver e denunciar toda forma de exploração e opressão, de anunciar e de mobilizar a classe que trabalha para uma saída solidária, livre e feliz. (22/05/2017)