Era uma festa barulhenta, cheia de gente bonita e mil perfumes dançando no ar. Eu, enfastiada. De cheiros e de indolências. Estava em TPM emocional. No dia seguinte selaria o destino do meu futuro profissional. Ele chegou desajeitado. Quase pedindo desculpas por existir. Olhei-o sem vontade. Descartei-o sem perdão. E continuei ausente de tudo e de todos. Insistente, ele se fez presença. Com voz gaguejante fez uma pergunta. Não ouvi. Não quis. Mesmo sem querer, senti sua solidão. Olhei de novo. Sua palidez me atingiu. Algo em mim se encolheu. Cedi. Descobri, ele era viúvo. Carregava o fardo de um passado interrompido. Era um ex-amante que acreditara na eternidade. Depois de dois anos adormecido, estava
em busca de vida. Olhei-o com vontade de gritar. Depois de um longo treinamento para amordaçar as emoções, estava eu ali quase oferecendo colo a um desconhecido. Saí sem me despedir. E nunca mais o esqueci.
Obs: Imagem enviada pela autora: Monovisions – black and white photography magazine