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Nesta quarta-feira, em todo o Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas (CONIC) que reúne oito denominações cristãs, inclusive a Igreja Católica, lança a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, com o tema “Economia e Vida”. O lema vem de uma palavra de Jesus: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6, 24).

Ainda há quem pense que a fé e a espiritualidade nada têm a ver com a organização prática do mundo e com o modelo de economia vigente na sociedade. Provavelmente, quem acha isso nunca leu profundamente os livros sagrados das diversas tradições espirituais. Especificamente, a Bíblia propõe ao mundo uma nova organização do mundo, baseada em uma economia de justiça e irmandade entre todos os seres humanos.

A fé é como um par de óculos que nos faz ver a realidade sob um novo prisma. Leva-nos a aprofundar jeitos alternativos para vivermos, inseridos na sociedade, o testemunho de um projeto divino para a humanidade e para cada pessoa. A fim de realizar este “novo mundo possível”, nos unimos em comunidades e exercitamos práticas espirituais. Elas servem como instrumentos metodológicos para aprimorar nossa relação com o Espírito, presente e atuante em nós, nos outros e no universo. Esta relação deve transformar nossa relação com os outros e com todos os seres vivos.

No mundo antigo, pastores das Igrejas do Oriente denominaram o modo de organizar e administrar este plano divino no mundo com o termo: economia. Na língua grega, oikos e nomos designam a administração da casa. Assim, a economia é a administração do mundo como uma casa comum a todos, para que toda a família humana possa viver dignamente e de modo solidário e feliz.

Infelizmente, no decorrer dos últimos séculos, a Economia foi aprimorada para garantir a manutenção da riqueza e do lucro nas mãos de uma minoria e relegar dois terços da humanidade a condições de miséria.

“Segundo relatório da Organização das Nações Unidas, ONU, sobre a campanha das metas do milênio, em 2008, os bancos ganharam mais dinheiro do que todas as nações pobres do mundo em 50 anos. Durante meio século, os países ricos destinaram às nações pobres quatro bilhões de dólares. Só em 2009, as instituições financeiras ganharam nove vezes mais, cerca de 35 bilhões de dólares. Em 2008, 915 milhões de pessoas no mundo passavam fome. A partir da crise econômica, esse número chegou a um bilhão” (texto base da CF 2010, p. 35).

Durante anos, Dom Hélder Câmara, então arcebispo de Olinda e Recife, dizia sua tristeza ao verificar que a maioria dos países mais injustos e responsáveis por essa distorção social é de cultura dita cristã.

O Brasil, país naturalmente rico e com imensas possibilidades de desenvolvimento, ainda ostenta índices vergonhosos de desigualdade e injustiça social. “Na raiz da desigualdade social, está a concentração de terras nas mãos de poucas famílias ou empresas. Cerca de 3% das propriedades rurais do país têm mais de mil hectares e ocupam 56, 7% das terras agricultáveis, enquanto 48% de famílias pobres não têm um palmo de chão para viver e plantar (Texto base da CF, p. 40). Em meados de 2009, órgãos competentes calcularam que o salário mínimo real está em 20% do que seria a quantia necessária para atender as necessidades básicas de uma família de dois adultos e duas crianças.

Isso exige de nós um compromisso de solidariedade e ações para transformar esta realidade. A Campanha da Fraternidade propõe várias iniciativas, como incluir, entre os direitos previstos na Constituição Federal, a alimentação adequada para todos, erradicar definitivamente o analfabetismo, combater o trabalho infantil, assim como exigir políticas econômicas redistributivas dos bens e das riquezas, garantidas por leis e efetivadas pelas estruturas do Estado. Conclama as igrejas e a sociedade a criar e multiplicar bancos de microcrédito e bancos comunitários, na direção de uma economia justa e solidária.

Atualmente, a própria deterioração das condições ambientais mostra que é urgente uma transformação da sociedade na direção da sobriedade e do cuidado uns com os outros e com todos os seres vivos. A Páscoa é memória da libertação do povo de Israel, celebração da ressurreição de Jesus e profecia de um modo novo de vida para toda a humanidade. Para vivermos felizes esta celebração e ela ter repercussão em nossas vidas, precisamos de uma economia pascal de justiça e solidariedade.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
www.empaz.org/

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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