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Em um dos restaurantes do mercado, no início da manhã,  a pergunta a garçonete, que na última vez em que a gente lá tomou café ostentava a barriga imensa, pelo filho nascido. Não foi  menino, e sim uma princesa, uma filha, que ela, mãe, considera uma princesa. No edifício onde moro, no andar abaixo do meu apartamento, um casal de médicos tem uma penca de filhas, que eu a elas me refiro como as princesinhas. Da mesma forma que, quando estou fora, ao telefonar para minha esposa, a chamo de princesa.

Vou ao ponto central: em todos nós, há, no sangue, por herança de várias gerações, alguma coisa da monarquia. Em nenhuma circunstância, não se aponta para a menina bonita a condição de filha do presidente, até porque, no caso, é apenas filha. Não é princesa, nem no diminutivo.  Poderia citar a frase dirigida ao sujeito cheio de pose: parece ter o rei na barriga. Não é o presidente da República.

A mesma coisa em outros setores. Exemplos: Pelé é o rei do futebol. Não é o presidente do futebol. Roberto Carlos é o rei. Olavo Bilac, o príncipe dos poetas parnasianos. Não é o presidente dos poetas parnasianos. Na política, no lançamento de filhos para cargos eletivos por quem já os exerce, representa um pouco daquela história de pai para filho, de filho para neto, na manutenção do sobrenome da família, como, nos tempos pretéritos, o príncipe substituía o rei, e daí por diante a mesma coisa.

A monarquia está no sangue, cérebro, olhos, a vislumbrar príncipes e princesas em todo lugar, como substantivos que se tornam adjetivos, para qualificar  homem e na mulher aquele algo a mais só se enxerga na família imperial,  sinal do algo na mente que conserva um resquício que os tempos republicanos não apagaram. Quando o plebiscito atinente ao retorno da Monarquia foi realizado, ouvi de muitos que só votariam a favor se fossem o rei. Não seriam. Votaram contra. A Monarquia não passou. A América do Sul perdeu a última oportunidade de tê-la de volta em um dos seus países.  Os príncipes e as princesas,  contudo, teimosamente, continuam infestando os lares. (Folha de Pernambuco, 27 de outubro de 2016; idem, 17 de novembro de 2016)

Obs: Publicado na Folha de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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