15 de março de 2017
- “A virtude está no equilíbrio” diz o sábio. Por visão crítica ou conveniência, tem sido comum aderir ao relativismo, em nome do combate a verdades dogmatizadas. Nessa onda toda opinião, por si só, vira verdade. Em nome do respeito às diferenças, toda posição se torna correta e cada pessoa é livre para dizer e seguir o que quiser. Ou seja, a pessoa se torna a medida de si mesma e a realidade deixa de ser objetiva.
- É fato que cada pessoa percebe a realidade a partir de um ponto, de sua visão de mundo, sua escala de valores, sua experiência familiar, o contexto em que vive, sua cultura… e seus interesses econômicos, políticos, religiosos…. Olhar as coisas a partir de um ponto é normal. Torna-se discutível, porém, quando a defesa da opinião própria faz confusão entre o que seja “respeitar” a opinião dos outros e “aceitar” a opinião dos outros.
- Respeitar tem a ver com escutar o outro, sem condenar, colocar-se no ponto de vista do interlocutor. Aceitar é concordar e até incorporar outras visões. O falso respeito tem sido motivo para enfiar, goela a baixo, interesses, caprichos, traumas, equívocos, ideologias…. Assim, aceitar o falso respeito, ajuda a promover ideias de intolerância, atrocidades, ódio e se prega toda sorte de discriminações e injustiças.
- Aceitar a opinião de outro não é concordar com dogmas preestabelecidos; é reconhecer que tal posição é verdadeira porque corresponde a uma realidade comprovada, a uma escala de valores e a um momento conjuntural. A pesquisa, o debate e o intercâmbio ajudam a discernir, em conjunto, o que é justo e correto. Nesse processo, cada pessoa traz sua verdade e se dispõe a examinar se sua opinião se ajusta à visão e momento do grupo
- Toda pessoa honesta, deveria incorporar a “certeza” assim construída. Pois, como dizia o filósofo “sou amigo de Platão, mas muito mais amigo da verdade” ou o velho educador: “a verdade independe do canalha que a pronuncia”. Nesse sentido, respeitar a opinião do outro seria aceitar, concordar, mas com a possibilidade de questionar, tirar as pessoas da zona de conforto, despertar da ilusão…
- A verdade é a busca do justo e do correto. Porém, numa sociedade em que alguns se apropriam do trabalho da maioria é preciso indagar: justo e correto para quem? Frente a disso, deve-se ter como a régua, valores universais como a vida, a liberdade, a fraternidade…. e não o querer que nasce dos meus traumas, taras, frustrações, complexos, culpas, preconceitos, ódios, tradições discriminatórias…
- A verdade não pode ser o dogmatismo de verdades absolutas e imutáveis, (pior se provém de lavagem cerebral, fanatismo). Nem o relativismo oportunista que legitima mesquinhos e equivocados interesses e ambições. A verdade é uma construção coletiva sempre aberta a evoluções e transformações, que leva em conta valores e o contexto sócio, econômico, político, cultural de pessoas e grupos.
- É legítimo o convencimento, a propaganda e a pregação de uma mensagem, assim como a disputa dela, se necessária. Pois, na luta antagônica entre a “panela de ferro é a panela de barro”, qualquer posição é sempre disputa, aberta ou latente. Pois a disputa gera o movimento, que gera mudança e gira a história. Às vezes, é obrigação travar a disputa e até vencê-la. Porque, há contradições que só se resolvem com a vitória de um lado. (Fevereiro de 2017)
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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