![](https://entrelacosdocoracao.com.br/wp-content/themes/entrelacos/img/point.png)
[email protected]
http://www.blogdeinamlo.blogspot.com.br/
http://meloina.blogspot.com.br/
http://www.inamelo.blogspot.com.br/
O sol aparecia palidamente naquela fria manhã de inverno parisiense. Mariana espreguiçou-se, abriu os olhos. Estava em pleno carnaval. Saiu caminhando pelas frias e ensolaradas ruas, de repente mudou de idéia. A outra mulher, aquela alimentadora de sonhos e ilusões lhe disse baixinho: Hoje sua alma está em festa, prepare também o corpo, lembre-se de que um aniversário é para ser comemorado. Ela riu com os seus pensamentos. Quem sabe se a voz interior não teria razão.
Voltou para o hotel a fim de pensar no programa da noite. Encontrou um ramalhete de rosas e um cartão, convidando-a para o baile veneziano no Louvre. Ah! Um carnaval diferente pensou! Vestiu um longo preto de cetim, pôs o mantô vermelho e desceu para encontrar Gérard. Abraçaram-se e foram para o antigo palácio .A multidão se espalhava pelos jardins num desfile surrealista em pleno século XX.Reis, rainhas, príncipes árabes, fantasmas da opera e tantos outros estranhos seres.Compraram máscaras negras enfeitadas de plumas e entraram na festa. Um mundo mágico e luminoso. Orquestras tocavam valsas vienenses e os pares dançavam enlevados. Perplexa, absorvia cada detalhe do que acontecia à sua volta quando alguém passou, tomou-a nos braços e saíram rodopiando. Qual das mulheres estava ali, acompanhada do Conde de Monte Cristo, ela ou a outra? O homem com quem dançava era alto, usava a tradicional capa preta e máscaras. Encantada, não resistiu ao seu magnetismo e deixou-se envolver. Abraçava-a de modo diferente, com maciez e ternura. O frio aumentava e a chuva insistia em cair. Ele enlaçou os seus ombros num gesto de carinho e seguiram pela fria noite parisiense. Foram jantar no “Le Criole”, famoso restaurante martiniquenho, freqüentado por jovens que dançavam ao som de salsas e merengues. Embriagados de música e champanhe chegaram ao hotel. Ele perguntou se podia acompanhá-la. O silêncio foi um sinal de aquiescência.O elevador parou no sétimo andar. O apartamento frio e silencioso recebeu-os com indiferença. Enlaçou-a pela cintura e começou a beijar-lhe o colo. Tirou a máscara e fitou-a com ardor. Hipnotizada com a força daqueles estranhos olhos negros se deixou abraçar pelo misterioso mascarado. Que belo presente de aniversário!
No outro dia, sábado de carnaval, decidiu ir à Veneza. Tomou o trem na Gare de Lyon. No percurso, embalada pela cadencia morosa da máquina e com os olhos fixos na paisagem pontilhada de pontos brancos, lembrou-se da louca alegria que contagiava o seu povo na ensolarada e quente cidade do Recife, sereia flutuante entre rios e mar. Pensou no Galo da Madrugada, bloco famoso, acordando foliões que se metamorfoseavam nas figuras mais atípicas que se pode imaginar. Reis e rainhas, santos e diabos, alguns se vestiam de mulher, muitos usavam máscaras, outros ostentavam a sua própria cara, misturando-se e igualando-se, pobres e ricos, jovens e velhos unidos num só objetivo: dançar, cantar, pular, rendendo culto à alegria, à paixão pelo Carnaval.
Para enfrentar a fria garoa, usou sobre a malha colante, um belo e curto vestido de “paetées” vermelho com botas longas. Gostou da imagem refletida no espelho. Pegou a capa preta forrada de pele que o desconhecido tinha posto no seu ombro para protegê-la do frio e foi para a Praça de São Marco.Quando entrou no “Harry´s” bar, sentou se e pediu um conhaque. Estava frio e o seu corpo quente dos trópicos, reclamava. Admirava os passantes e as diferenças dos seus mundos. Uma jovem aproximou-se oferecendo uma bela mascara bordada, ornada de pequenas estrelas e um tridente dourado. Estava fantasiada de diaba.
Logo, sentiu que alguém a olhava com insistência e por acaso, viu um mascarado igual ao da noite anterior. Seria sonho ou realidade? Ele tomou lhe as mãos, levando-a para o meio da multidão. O desfile ia começar. Que mundo irreal! Pensava, vendo aquelas pessoas, quase todas artistas de teatro, desfilando com belas e majestosas roupas de época.
A mulher e o mascarado, dançaram a noite inteira. Apesar do frio, as pessoas estavam alegres, foi um carnaval diferente de todos os que já passara na vida. A manhã chegou sob sol e chuvas, névoas e ventos, encontrando-os debruçados sobre a Ponte dos Suspiros. O tempo nada significava para eles.No outro dia, retornou a Paris.
No quarto vazio, quando acordou a chuva caía forte, procurou e não encontrou ninguém, ouvia apenas o ruído da água na vidraça. Abraçou o travesseiro, fechou os olhos e voltou a sonhar.Hoje, passado tantos anos, com a névoa do tempo cobrindo-lhe os cabelos e sem saber em qual galáxia está o mascarado, ela recorda com saudades, aquele aniversário, tão feliz e festejado. Recife, 06 de fevereiro de 2006.
Obs: Imagens enviadas pela autora.