É tudo muito estranho. Todos os finais de ano temos uma onda de esperança passando dentro de nossos íntimos. É como se pudéssemos corrigir tudo de agora em diante. Adoramos mesmo essa ilusão. Quem não adoraria? Ela é tentadora.
Um novo ano, uma nova história a ser traçada… Uma velha caneta e uma nova folha de papel. Por um segundo, intuitivamente ou desesperadamente, até chega a fazer sentido. E então nos preparamos, com uma boa roupa, uma boa comida e bebida, e uma festa com pessoas próximas, torcendo por um céu estrelado. É como se juntássemos todas as energias com o objetivo que essa utopia virasse verdade.
Sim! “É um novo tempo que começou”… Você não está vendo? Em breve o calendário nos dirá que é 2008! Que coisa boa, não!? Um novo ciclo de translação planetário nos trará dias melhores…
Mas não precisa passar muitas horas para se perceber que as coisas não são bem assim. A noite não tem estrelas. E ao amanhecer, o sol nasce da mesma forma e ardendo a realidade dentro dos poros. Não. Não ganhamos outra chance, não temos meios de começar de novo. O fluxo impiedoso continuará a correr, aliás, como sempre. Não há nada de novo no ano novo, com o perdão do trocadilho. Seguimos do mesmo miserável ponto.
Mas como não sentir esperança, não é mesmo? Não há mal maior do que a descrença, certa vez disse um poeta.
Essa é a fina ironia.
Feliz ano novo.
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Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que, daqui para adiante, vai ser diferente.