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A sala da diretoria ficava sempre aberta. Para lá, quando podia, me dirigia a fim de contemplar os quadros de formatura da quarta série ginasial. Construídos de madeira, continham o nome do ginásio, ano da turma, retratos do governador do Estado, do prefeito, do diretor, dos professores, e, enfim, separados, o dos alunos. Para usar um termo que expresse o sentimento que se apoderava de mim, evitando o da inveja, eu diria que me babava ao ver os quadros, certo que, um dia, meu retrato também figuraria num quadro daquele, como concludente do quarto ano ginasial. Não realizei o sonho.
Me lembro que, antes de minha turma, a de 1964 trouxe Lineu para fotografar aluno por aluno. A presença de fotógrafo da capital foi motivo de muitas conversas, umas de regozijo, outras de crítica, afinal Itabaiana tinha fotógrafo também, com condições de realizar aquele serviço. Criticas também foram feitas as fotos em si, um aluno que ficou muito cabeçudo, a aluna que teve o rosto arredondo, foram algumas. Afinal, deslocar um fotógrafo de Aracaju só para isso parecia uma extravagância de ricos. Acho, sem absoluta certeza, que foi o último quadro ali instalado.
O certo é que a minha turma se preparou com muito atraso. Bosco, no início das aulas, alertou para o problema. Foi ignorado. Quando dezembro se aproximou, se organizaram com pressa. Ficamos de fora, eu e ele. Não ganhamos o terno – porque na missa e no baile, era a roupa oficial -, e da formatura do ginásio, tão importante à época, tivemos apenas a certidão do curso ginasial concluído. A turma não teve o seu quadro, porque dependia da arrecadação que se fazia mês a mês, para a qual não se tocaram. Não sei nem quem foi o paraninfo.
O quadro de formatura representava um pouco da história do ginásio, ao estampar a foto de todos os alunos da quarta série. A cidade parava para assistir a missa e o baile de formatura era disputado, cada aluno indo receber seu diploma ao lado da madrinha ou do padrinho. Anos depois, fui convidado por uma prima, Sonia, para ser seu padrinho. Botei terno e fui. Da festa, ficou o retrato da gente, cerimoniosamente, arranhando a valsa.
Os quadros se apresentavam com formatos diferentes, sintetizando um pouco a história do ginásio, num período em que a formatura do ginásio – que Itabaiana demorou a ter -, simbolizava tanto para os formandos como para os seus pais. Do primeiro quadro, com o formato da Serra, desenhado pela professora Cecília Teixeira, me recordo bem.
Pena que todos os quadros tenham sido destruídos pelo tempo e pela falta de cuidado dos que deveriam ter zelado por esta parcela do patrimônio do ginásio. Realidade crua, então, a de que aqueles quadros, que tanto me encantaram, retratos de um tempo que não volta atrás, não existem mais. Matou-se a história, levando para o esgoto a alegria da vitória que se apoderava de todos que concluíamos o curso ginasial, façanha que os poucos antigos, que usufruíam, o fizeram em Aracaju ou em outras plagas. A gente, exalte-se, em Itabaiana mesmo. Viva. (10.01.15)
Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.