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Há dias em que me pergunto: as horas estão preguiçosas ou eu não tenho mais tempo para pensar? Elas se arrastam vagarosamente como o bicho preguiça no pé de umbaúba. Têm personalidade como se fossem gente.
Acendem-se as luzes de um final de ano, exatamente idêntico a tantos outros que financiaram as mesmas fantasias e venderam fiado os mesmos sonhos.
A cada ano que termina, as pessoas buscam uma receita para a felicidade. Embrulham dores em papel presente, um laço de fitas uma ilusão. Bolas e luzes coloridas quebram o silêncio das árvores, a seriedade dos grandes prédios, a majestade dos postes de iluminação. As ruas viram um palco para um festival de contradições e falsas crenças, de pecados perdoados e mágoas esquecidas, num faz de contas que termina ao apagar das luzes e, depois, para voltar sempre à velha rotina dos dias comuns, insossos, com altas contas para pagar inclusive da energia desperdiçada na iluminação de sonhos frustrados. Quando termina um ano não terminam problemas nem preocupações.
Apela-se, então, para as crendices, muitas delas, ridículas de tão rudimentares que são. Ninguém se apercebe de que, romper o Ano Novo vestindo branco, amarelo ou vermelho, só dá sorte aos donos de lojas e butiques.
Seria melhor carregar no peito um coração em branco livre de sentimentos negativos.
Todos os dias roupas nos esperam para a encenação dos papéis que iremos desempenhar no dia a dia. Como saber por que e para que fomos escolhidos? Se alguns são esperados com enxovais de luxo, outros com os molambos da miséria. Uma coisa é certa, nascemos nus, morremos vestidos. Alguns voltam até com identificação: farda acadêmica, camisa do clube preferido, túnicas religiosas e outras roupagens temáticas.
Os Evangelhos nos advertem para que não nos preocupemos com o que comemos ou com o que bebemos. Falam-nos das aves do céu e das flores dos campos. No final das contas, tudo igual. Seria diferente, sim, se as pessoas morressem de acordo com seus temperamentos. As calmas, comedidas, conciliadoras, por exemplo, passassem desta, para melhor transformadas em nuvens ou fumaça. As belicosas, iradas, agressivas, explodissem feito bombas e granadas. As indiferentes às dores e sofrimentos alheios, se derretessem como as geleiras. As mal satisfeitas, indecisas e ansiosas, sumissem como os vapores agoniados das panelas de pressão.
Obs: Texto do livro da autora – Doido É Quem Tem Juízo –