
Senhor, abre os céus, porque a vida é dura.
Mais dura é na Serra do Exú, onde alguns despreocupados bateram muito tijolo com água boa do açude, até que ele secou. Agora dizem com a cara inocente: É do jeito que Deus quer. Mas Dona Tereza diz que não: É do jeito que vocês queriam. Agora vão comer o tijolo para ver se mata a sede.
Onde é que tem água? Vamos para a cacimba de Dona Júlia, onde mina uma água da pedra. Mas é preciso esperar muitas horas. As mulheres perdem noites de sono. Dona Jerusa deixou de cozinhar feijão por falta d´água: Ontem fiz um bolo para o almoço para não gastar água. Mas agora estou rica, porque o carro-pipa subiu para a Serra e enchi três potes. Vai dar para passar uns quatro dias. – Só que ela não sabe, se o carro volta com quatro dias.
É dia de missa na Serra, e o evangelho trata do grito de Jesus que é o grito do povo: Tenho sede! Ele que havia prometido o céu para quem desse de beber ao profeta, não recebeu um copo d´água. Ele que criou oceanos e rios, não teve direito de saciar sua sede. Como o sertanejo que cava os açudes nas frentes de emergência, não tem direito de servir-se desta água.
“O soldado ensopou uma esponja com vinagre misturado com fel e ofereceu a Jesus”.
“E hoje é diferente?” pergunta Dona Zéfinha: “A água que vem aqui na ponta da lança é só para mostrar, e o gosto é ruim”. Lembrando da esponja, alguém falou: “As mães dão banho nos meninos com a esponja, para economizar”. Jesus sofre com o povo e exclama: “Tenho sede”. O gemido de Jesus continua. Hoje ele é crucificado no madeiro seco do sertão, e as cinco chagas são os cinco anos consecutivos que não chove.
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.
Foto enviada pelo autor.