Latas Vazias
Sr. Benedito é doente, e sua esposa diz: ”Um velho destes não devia mais carregar o galão”. Mas ele vai todo o dia até o barreiro do Finado Antonio Luiz para buscar duas latas na balança do ombro, sempre com a pergunta: Quantos dias ainda? – Este barreiro que o gado empresta aos homens já serviu demais. Mas chega o dia em que o vaqueiro diz: “Agora o gado vai beber o resto”. O Sr. Benedito volta com as latas vazias. Agora resta a esperança: Talvez venha o carro-pipa hoje. Mas nem todos têm a paciência de esperar por este carro que vem quando quer. Muitos preferem ir para o açude da Forquilha. Se a gente vai apressado, dá para fazer um caminho d´água em 50 minutos. Mas a pessoa tem que descansar ao menos duas vezes. A primeira folga é na plantação de tomate de Pedro Rosa. Aqui todo mundo relembra uma queixa: este homem ajudou a secar o açude mais ligeiro, irrigando sua plantação com carro-pipa, e agora o povo pergunta na beira do açude: Será que dá para duas semanas ainda? A segunda folga é no bebedouro do Riacho Salobro, onde o gado bebe à força só o necessário para não morrer de sede.
Na estrada se encontram os carros de boi com grandes tambores, os homens com duas latas no ombro e as mulheres com uma lata na cabeça: todos no mesmo serviço pela sobrevivência, e a conversa é pouca. Quem está com as latas vazias pergunta: Como vai? E quem vem carregado responde: Eu vou porque é o jeito.
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.
Foto enviada pelo autor.