As atenções do mundo se voltam novamente para a Coréia. Na verdade, para as Coréias. Pois aquela nação foi divida em dois estados, por motivos ideológicos, desde a “guerra da Coréia” em 1953. De tal modo que agora temos duas Coréias. E o pior de tudo, ambas sempre em pé de guerra, valendo-se de todo tipo de pretexto para acusações mútuas e ameaças constantes. Como de novo agora, beirando ao desatino da guerra aberta, exigindo a intervenção das grandes potências para dissuadi-las de qualquer aventura militar.
A situação da Coréia é um atestado eloqüente de como o mundo ainda não encontrou as bases verdadeiras para o convívio pacífico entre as nações. Ainda não estamos curados das divisões causadas por ideologias que dividiram o mundo em dois blocos contrapostos, que não foram dissolvidos com a grande guerra mundial dos anos quarenta.
Desde então, já se podem contabilizar centenas de guerras localizadas, das quais a do Iraque, e agora a do Afeganistão, são os exemplos mais recentes.
A maneira de sinalizar a divisão das duas Coréias é sua posição geográfica. Uma é Coréia do Norte, outra é Coréia do Sul. Mas dá para perceber logo que o motivo da divisão não tem nada a ver com a posição geográfica. Nem o sul nem o norte tem culpa em cartório. Como nos tempos da guerra fria, em que havia Berlim Leste e Berlim Oeste. Se fosse transferir agora para a Coréia as diferenças ideológicas que dividiam o mundo em dois blocos, uma seria a Coréia do Leste, outra seria a Coréia do Oeste!
Na verdade, o mundo está cansado dessas divisões, impostas por motivos ideológicos. Elas oneram os povos, que acabam pagando o preço de disputas que não lhe dizem respeito.
O pior é que quando as ideologias perdem força, os interesses econômicos entram em ação. O exemplo mais evidente é a China, que optou por continuar com um estado totalitário, mas abrigando um capitalismo econômico que conta com a proteção do estado para garantir a exploração barata do enorme estoque de mão de obra proporcionada por milhões de chineses à espera de sua integração na dinâmica econômica.
Até a Fifa acabou reconhecendo a divisão das duas Coréias. De tal modo que ambas conseguiram se classificar para a copa do mundo que está por começar. Aliás a primeira partida do Brasil será exatamente contra a Coréia do Norte. Enquanto a Coréia do Sul terá que se haver com a Argentina.
Nisto, quem sabe, o esporte poderá colaborar para superar os confrontos militares, substituindo-os por confrontos esportivos. Parece residir aí a força do esporte. Ele tem a função de humanizar a aparente inexorabilidade do instinto guerreiro que a humanidade assimilou e do qual não consegue se livrar.
Se a humanidade não é capaz de prescindir das guerras, que estas ao menos sejam transformadas em batalhas esportivas. Assim sendo, vamos torcer para que as duas Coréias cheguem à finalíssima na copa do mundo. Antes que declarem guerra entre si, que aguardem ao menos a conclusão da copa. Contanto que o apito final do juiz não signifique o início da nova guerra que parecem estar ensaiando nestes dias.
Além de apostar no Brasil, vamos torcer para que as batalhas entre os países se limitem aos campos de futebol. Aí todos podem ganhar, mesmo perdendo o campionato.