As Olimpíadas são consideradas o único evento internacional que congrega quase todas as nações do mundo e no qual o espírito esportivo supera qualquer intromissão política.
Parafraseando Caetano Veloso, de perto nenhum evento é politicamente neutro. Hitler fez de tudo para manipular os Jogos Olimpícos disputados em Berlim, em 1936, e teve que engolir a superioridade de atletas negros frente a seus “arianos”.
Os EUA boicotaram as Olimpíadas de Moscou, em 1980, em protesto contra a invasão do Afeganistão pelos soviéticos. E agora, por razões políticas (Ucrânia e Síria), a Rússia é impedida de participar de certas modalidades esportivas na Rio-2016 sob o pretexto de doping.
Será que entre os 206 países representados no Rio apenas um, a Rússia, teve atletas anabolizados por substâncias proibidas?
Acreditar que o COI (Comitê Olímpico Internacional) paira acima de qualquer ideologia é crível para menores de 10 anos… A Fifa também pairava acima de qualquer suspeita de corrupção, até que passou a ser intensamente investigada depois de aprovar Moscou como sede da Copa do Mundo de 2018.
As acusações de doping em atletas russos foram feitas por Grigori Rodchenkov, ex-diretor do laboratório de Moscou, que hoje vive exilado nos EUA. Apontou como responsáveis o Ministério dos Esportes russo e a FSB (Serviço Federal de Segurança), antiga KGB.
O COI criou uma comissão supostamente independente para analisar as acusações. A conclusão foi culpar a entidade olímpica russa e, de quebra, o governo de Putin. Daí o apoio do COI à IAAF (Federação Internacional de Atletismo) ao decidir suspender atletas russos das Olimpíadas do Rio, justamente em modalidade na qual tradicionalmente se destacam. A IAAF sugeriu ainda que aqueles que comprovarem não terem sido dopados participem dos jogos como “neutros”, e não sob a bandeira da Rússia…
Por sua vez, a Federação Internacional de Halterofilia (IWF) reduziu o número de levantadores russos na Rio-2016, devido “ao problema de doping no esporte russo.”
Por que não se dá ouvidos à sugestão da atleta russa Yelena Isinbáyena de rever os laudos antidopagem de diversos atletas olímpicos, e não só dos russos?
Em um evento que congrega 206 países, mais do que a própria ONU, que possui hoje 193 filiados, como fazer do esporte algo parecido à música, que está acima de qualquer disputa política?
Obs: Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
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