Mesmo contra a minha vontade…
Tenho que ir.
Já não é mais possível adiantar o momento da partida.
Tenho que partir.
Não importa se a hora já é passada.
Será uma viagem solitária,
sem companheiros de caminhada,
sem conversas, sem partilhas.
Será uma viagem de longas horas
contadas nos dedos das mãos e dos pés.
Decidi partir agora:
na calada da noite,
no meio do silêncio que desconhece o meu rosto,
na hora avançada em todos os relógios.
Saio pela porta do fundo
para não ser percebido,
levantarei os pés para não ser identificado.
Deixarei a porta aberta
porque, quem sabe, algum dia gostaria de retornar.
Tenho que ir
deixando aqui parte de minha vida.
Tenho que ir
com o soluço travando a garganta.
Tenho que ir
mesmo que peçam para ficar.
A decisão é minha.
A vida é minha.
O resto permanece um mistério ..
No retorno,
o que encontrarei,
o que sentirei,
o caminho que percorrei,
as pessoas que encontrarei?
A vida é mistério que se revela a cada momento,
e simultaneamente se esconde num segredo impenetrável.
(Caxias 07.07.2003)