Talvez percamos o tempo a falar das casas, das castas,
das capas, dos encapuzados, da luz d’alguns em
detrimento da escuridão de outros. Da minha janela
talvez não possa te ver e o que sei é tão pouco que nem
teu grito ouço. Ouço, ouço, que me lembra osso, ossos
dos nossos ofícios num país de tantas línguas e
des(entendimentos). Infantilidade a minha pondo
créditos em anjos alados e fadas madrinhas que nem
abrem as portas nem usam varinhas. Rio de mim tantas
vezes lutando contra um vácuo, agarrando-me a um fio
de esperança na humanidade que se arrasta e dá
rasteiras na própria espécie e nem mesmo por
sobrevivência, mas instinto do mal, a puxar o tapete dos
que mal andam, mal vivem, mal sentem. Procuro donde
guardar minha vergonhosa inocência disfarçada de
altivez num mundo sem vez, tão vil. Fechar a janela na
mentira da segurança, feito criança que acredita em
proteção. Adormeço guardando minha luta embaixo do
colchão.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
Imagem enviada pela autora.