dezembro 2009

1. Perguntar se um aniversário é um dia a mais ou um dia menos ou se um copo com água, até a metade, está meio cheio ou meio vazio parece uma brincadeira pra encher o tempo e botar conversa fora. Mas, como toda brincadeira é coisa séria essas perguntas também convocam à Elevação do pensamento. São perguntas que traduzem, na conversa cotidiana, uma preocupação transcendental e filosófica.

2. Dar respostas a esse tipo pergunta, não raro, causa medo, insegurança e até preconceito. A maioria prefere avançar às cegas pelos pantanosos terrenos do pragmatismo e seguir a música sem saber que existe uma pauta. Não percebe a grandeza do pensar e se cansam só em pensar no esforço que dá e na coerência que exige. Melhor mesmo, dizem, é viver a vida sem ter que dar satisfações nem a si mesma.

3. O senso comum foi ensinado a não lidar com a ambigüidade da vida e das perguntas. (Ambigüidade – propriedade de uma idéia de expressar vários sentidos, às vezes, contrários, contraditórios, simultaneamente). A cultura ocidental chegou a dogmatizar o principio de identidade onde uma coisa é uma coisa e não pode ser outra – o que é, é e não pode não ser; o que não é, não é e não pode ser.

4. Esse pensamento linear não dá conta da realidade e da vida. Não consegue explicar porque a sensitiva sendo planta se encolhe e porque as plantas ‘carnívoras’ comem animais. Quando chegam ao ornitorrinco os ‘cientistas’ na sua mania de classificar, tacharam de montagem – peixe, ave, põe ovos, mamífero…? Não sabem dizer o que tem a ver o começo com o fim, o presente com o futuro.

5. As perguntas sobre origem, finalidade e destino da vida (quem sou eu, de onde vim, para onde vou) são universais. Porque mestres, filósofos, religiosos, políticos… não contam ao povo o resultado de seus estudos. Não aprenderam ou tiram proveito de suas descobertas? O que o povo conhece são os demagogos e mistificadores vivendo de promessas de salvação, céu, reencarnação, imortalidade…

6. Os sábios marginais, como Sócrates, pagaram com a vida a ousadia de contar à juventude os caminhos para atingir o mistério. Usava a dialética para mostrar que mãe, criança e parteira sendo diferentes constituíam uma unidade. Assim não há segredo na unidade dos contrários como frio e calor, dia e noite… e que a negação da negação, como ovo e a galinha, é o movimento real que faz a história.

Obs: (anotações depois de ter lido “As intermitências da morte” de J. Saramago)

A PARTE II será postada no próximo dia 15.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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