Com sua posse solene, a 19 de março, o Papa Francisco inicia a caminhada do seu pontificado. Caminho que desde o primeiro momento, na sacada da basílica, ele propôs de realizar junto com o povo, de quem pediu a bênção.
O início não podia ser melhor. Sua eleição foi inesperada. E todos de imediato a acolheram com entusiasmo e alegria. Tanto que se tornou um fenômeno na mídia mundial, que continua reservando a ele manchetes nas primeiras páginas.
A figura do Papa Francisco emergiu de repente, vindo sem dúvida preencher um vazio de grandes personalidades no cenário mundial, de que padecemos hoje.
Mas ele fez por merecer esta pronta adesão de todos os que se perguntavam pelo Papa que iríamos ter. Soube transmitir suas mensagens através de gestos, que nestas circunstâncias são percebidos de maneira mais clara e eficaz.
A começar pelo nome que escolheu. Ele evoca um leque muito amplo, de valores humanos e cristãos, que fazem parte da biografia de São Francisco, e que agora servem de referência para pensarmos o que o novo Papa poderá desencadear.
Outros gestos também tocaram de cheio a sensibilidade do povo, que espera um Papa humano, que suscite e incentive um clima de compreensão e de fraternidade, capaz de romper com o crescente distanciamento da Igreja com os problemas da humanidade de hoje.
Dá para dizer que o Papa Francisco está seguindo as pegadas de João 23. Daquela vez, o Papa foi despertando uma admiração crescente, sobretudo pelos gestos de bondade que ia fazendo. E não demorou muito para transferir a simpatia, de sua pessoa para a sua proposta, de um concílio ecumênico para renovar a Igreja.
Assim, o entusiasmo pelo Papa passou para o entusiasmo com o concílio. De tal modo que o apoio do povo foi decisivo para desencadear um surpreendente processo de mudanças e de renovação cristã e eclesial.
A questão que se coloca agora é saber até que ponto este novo entusiasmo por um Papa que captou a benevolência do povo pode se tornar em novo impulso de renovação eclesial.
A esperança é exatamente esta. A renúncia de Bento 16, e a eleição do Papa Francisco parecem ter criado um clima muito propício para desencadear um novo processo de renovação eclesial, retomando as propostas do Vaticano II, que receberiam um novo impulso, dentro do clima favorável, de diálogo e de abertura, já sinalizados pelo Papa Francisco.
Claro que se levantam algumas questões muito pertinentes, que nos fazem pensar na viabilidade prática desta retomada do Concílio. No tempo de João 23, o processo de renovação eclesial entusiasmou a todos, quase não encontrando nenhuma resistência.
Agora, quem iria sustentar este apoio, e como seria possível articulá-lo, para que encontre eco nas instâncias de decisão eclesial?
Mas o fato positivo é este: parecem recriadas as condições de um novo período de renovação eclesial, no clima favorável de caridade fraterna, de abertura e de compreensão, de que todos estão sedentos.
Em todo o caso, estaremos atentos a todos os sinais de convocação, que vierem da parte de nosso Papa Francisco. Pois não podemos desperdiçar um momento de graça tão forte e evidente como este que Deus suscitou com a eleição do nosso Papa Francisco.
“Vereis coisas maiores do que estas”, falou Jesus aos seus discípulos. Se os gestos do Papa Francisco já nos entusiasmaram, muito mais vamos traduzir o entusiasmo pelo Papa que temos, com as decisões que ele tomar, e para as quais necessitar de nosso apoio.
Então, os gestos de hoje, serão os fatos de amanhã. (24.03.2013)
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.