…para Paula Barros, por sua Série “Andarilha”
Escuto sua voz pelos corredores do tempo, de meu tempo esquecido nalguma esquina dessa cidade por onde tanto caminhamos. Escuto sua voz dentro de minha memória abandonada nos portos que nos serviram de descanso. Escuto sua voz encarcerada nessa saudade à margem dos sonhos.
Esqueço sua voz dentro de mim, perdida nessa casa carcomida por lembranças de nós. Esqueço sua voz nos recantos de minhas histórias adormecidas à beira do vazio. Esqueço sua voz junto a um tempo a escorrer por minha pele ressecada de espera e solidão.
Escuto esse perder-se de mim em sua voz. Esqueço um tempo de nós a sonhar em mim. Escuto, esqueço, invento sua voz pelas frestas do que ainda é vida em mim. E sonho sua voz a pulsar em meus poros e ela ocupa meu olhar a procurar o seu.
Esquecido de mim, deito nos desvãos do tempo e acordo a passear com você por montanhas e campos de nosso relembrar. E toda nossa vida são vidas vestidas em sua voz para encarcerar o tempo e a memória dentro de nós. Durmo em sua voz com a sensação de que acordarei no seio de um tempo recriado de silêncio. Seu e meu.