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Olhar os bispos do Brasil reunidos, é enxergar melhor o Brasil. Sobretudo se nos damos conta da realidade onde cada um vive, cumprindo a missão de sinalizar a presença da Igreja Católica.

Olhando nossas fronteiras, em sua vasta extensão continental, muitas foram definidas pela ação da Igreja. A fisionomia do mapa do Brasil tem tudo a ver com a Igreja Católica. Em boa parte, foi a Igreja Católica, por sua presença, que definiu o território nacional.

Quando, por exemplo, no litígio entre a Inglaterra e o Brasil, a propósito da Guiana, o critério adotado era ver em que língua as pessoas tinham sido batizadas. Como sempre muito experta, a Inglaterra promoveu uma campanha da batismos, para as pessoas se chamarem JOHN, e não João. Pois os JOHNS indicariam que o território seria inglês!

Muitos ainda hoje perguntam pelo prodígio deste vasto território ter sido unificado debaixo de uma mesma bandeira, quando os territórios de domínio espanhol ficaram tão retaliados. Em nosso país, sem dúvida, o princípio unificador foi a língua portuguesa. Mas não só. Teve influência decisiva a universalidade da mesma fé católica.

Sobretudo os bispos da Amazônia ainda carregam hoje em dia o peso de sustentar este símbolo da nacionalidade brasileira.  Algumas realidades escapam à compreensão da maioria dos brasileiros. Ainda ignoramos o que significa, na prática, aquele imenso território. A reunião anual dos bispos continua sendo uma boa oportunidade para trazer à consciência de todos a complexa realidade da Amazônia, que ainda não foi suficientemente assimilada pela consciência da cidadania do nosso país.

Algumas situações surpreendem. Conversando com os dois bispos do Estado do Acre, da Diocese de Rio Branco e da Diocese de Cruzeiro do Sul, já nas proximidades do Peru, surpreende saber que todo o acesso rodoviário ao Acre depende de uma balsa, para atravessar o rio Madeira. A travessia, além de cara, é geralmente muito demorada, precisando às vezes aguardar horas a fio para conseguir vaga. E o Brasil continua incentivando a construção da “transcontinental”, que uniria o Peru ao Brasil atravessando todo o território do Acre.  Do lado do Peru a rodovia está asfaltada, pronta e bonita. No Brasil, além do terreno arenoso, dificultando a consolidação do leito da rodovia, o trajeto ainda por cima depende de uma balsa!

Outras surpresas a gente descobre, perguntando pelo tamanho do território de cada Diocese.

Sob este ponto de vista, a mais impressionante é a Prelazia do Xingu, onde há trinta anos está D.Erwin, sustentando sua herósustentando sua hers estde his impressionante itndo pela balsa!ia.o Branco e da Diocese de Cruzeiro do Sul, j e nica batalha em defesa dos índios e dos seus territórios.

Pois bem, sua Prelazia cobre um território de 368 mil quilômetros quadrados, com uma população aproximada de 600 mil habitantes. A Suíça tem apenas 41 mil quilômetros quadros. Fazendo umas contas aproximadas, dá para dizer que o território da Prelazia do Xingu é dez vezes maior que toda a  Suíça! Dá para imaginar como D. Erwin consegue visitar as 900 pequenas comunidades aninhadas nas beiras dos rios…

Outro exemplo comovente é a Diocese de São Gabriel  da Cachoeira, desenhada pelo Rio Negro, começando nos confins do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. Seu território é de 293 mil quilômetros quadrados. Comparando, de novo, com a Suíça, temos poucas diferenças a fazer. Com a peculiaridade de que a população daquela Diocese, de  cem mil habitantes, 95 por cento são indígenas, de 23 ednias diferentes!

E assim seria interessante conferir os dados concretos de cada diocese da Amazônia, para constatarmos como pouco ainda sabemos da complexa realidade que ela traz para o interior da nacionalidade brasileira.

Olhando os bispos reunidos, dá para ler outras realidades, muito interessantes e significativas. Uma delas, por exemplo: a Igreja do Brasil conta com mais de quatrocentos bispos, incluindo os aposentados. Pois bem, desses todos, mais de cem não nasceram no Brasil. Temos aí outro dado muito significativo, e que nos leva a compreender melhor as dimensões constitutivas de nossa nacionalidade. Somos um povo com vocação de abertura para o mundo.  Temos a vocação de integrar os que aqui chegam, das mais diversas procedências.  E os bispos “estrangeiros” nos dão, com certeza, um bonito exemplo de cidadania, vivendo sua identificação com a nacionalidade brasileira. Eles abraçaram de tal modo a realidade brasileira, demonstrando mais amor pelo Brasil que muitos brasileiros.

Uma assembléia de bispos é também uma aula de geografia, de história, e de nacionalidade brasileira.(29.04.12)

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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