foto Aurelio Molina entrelaços

Compartilho a visão de que a Presidente e seu governo cometeram erros e que a corrupção é endêmica na sociedade brasileira, mas desde 2013 me chama atenção o clima de radicalismo e intolerância que se instalou no país. Sempre me causou espécie o fato do movimento oposicionista ser comandado por algumas lideranças que envergonhariam qualquer movimento sério (incluindo o notório capo di tutti’i capi que, para muitos, além de ser o poderoso chefão é também um brilhante e perigoso psicopata). Também soavam muito estranhos e desproporcionais os ataques sistemáticos à urna eletrônica, ao TSE e ao Supremo Tribunal Federal (inclusive utilizando-se de “robôs” de internet para difundir e massificar opiniões). Apesar de não ter nenhuma simpatia pelo seu “estilo búlgaro” de ser e governar, estou entre aqueles que a consideram uma pessoa honrada e hoje creio que a presidente está sendo punida muito mais pelos seus acertos do que pelos seus erros. Seu compromisso com as políticas sociais compensatórias, com a unidade da América Latina, com o Mercosul, com os BRICS, com a criação de uma alternativa ao FMI e defesa de nossos recursos naturais estratégicos (principalmente das jazidas de petróleo do pré-sal) estão sendo decisivos para sua queda. Mas passando diante de uma famosa livraria, notei (pelo destaque publicitário) um livro recentemente lançado em português denominado “Da Ditadura à Democracia”. Ao folheá-lo…bingo: esbarrei com um manual prático e guia de orientação para mudar sistemas políticos. Didático e de fácil leitura, a obra apresenta (e defende) um “passo a passo” para a desestabilização e derrubada “pacífica” de um governo, “métodos” esses que foram seguidos à risca no “case Brazil”. Seu autor (Gene Sharp), pelo que pesquisei, apesar de alguns títulos acadêmicos, não tem nada de pacifista e, muito menos, de altruísta, sendo considerado por muitos um importantíssimo ativista da geopolítica internacional, assim como a organização por ele fundada (Albert Einstein Institution). Ao final da leitura foi como se o “Véu de Isis” se rasgasse e tudo fizesse sentido e se encaixasse. Mas a evidência da importância de seu papel na atual crise foi encontrar na internet vídeos e textos nos quais os líderes do movimento oposicionista há anos faziam apologia dele e do seu livro (em inglês), como se fosse uma espécie de “livro sagrado”. Pelo menos para mim o “quebra-cabeça” ficou completo. Estamos diante do resultado de uma competentíssima ação internacional (com, no mínimo, um “Think Tank” de apoio) que precisou quebrar o país e demonizar um governo e uma presidente democraticamente eleitos, tornando-os uma “ditadura odiosa e corrupta”, onde as Instituições do Estado Democrático de Direito “não funcionam”, para que o plano “pacifista” pudesse ser realizado com sucesso e a soberania, a independência e a democracia do país fossem desrespeitadas e solapadas. Finalizo com uma máxima atribuída a Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. Mesmo sob uma enorme “lavagem cerebral” midiática.

Publicado no Diário de Pernambuco, página A2 (Opinião), 03/05/2016

Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciência e de Medicina.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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