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Com a sede de poder que tomou conta do grupo que está prestes a assumir a administração federal, emergem as propostas de solução, que vão sendo divulgadas de antemão, com o evidente intuito de torná-las irreversíveis.

A grande solução proposta é a privatização.  Sua referência concreta é o “Estado Mínimo”. Todas as políticas públicas seriam entregues à iniciativa particular. O Estado ficaria reduzido a atividades que absolutamente não poderiam ser assumidas por particulares. Até as cadeias deveriam ser privatizadas, dentro desta proposta rigorosa, que iria sacudir por inteiro a economia com a injeção dos recursos obtidos pelas privatizações.

Acontece que a proposta não pára aí. Além de privatizar, se abre claramente a possibilidade de que empresas nacionais, que vem atuando em diversos setores da economia, poderiam ser compradas, inteiramente, por capital estrangeiro. De tal modo que não haveria nenhuma precaução de ordem estratégica. Tudo poderia ser vendido, sem perguntar se a compra é feita com capital estrangeiro, ou não. As companhias aéreas por exemplo!

Não sei de que maneira estas propostas, de consequências tão graves, contam com respaldo político, e são acompanhadas de um debate rigoroso, como o assunto merece.

Para tomar decisões tão radicais, os cidadãos precisam ser avisados, e o assunto precisa ser debatido em todas as esferas do país. Para tomar estas decisões, é preciso ter credibilidade política. E convenhamos que os episódios recentes na esfera política mostraram, exatamente, um baixíssimo nível de credibilidade.

Por isto, a urgência de soluções não autoriza aventuras de consequências irreversíveis.

As medidas propostas precisam ser olhadas em perspectiva ampla, de longo prazo, e não imediatistas e sem reflexão.

Vale a pena percorrer a história, e perceber quantos tropeços foram acontecendo, e quanto o Brasil ainda corre risco de perder sua identidade, diluindo seu projeto de país soberano, onde os cidadãos tem consciência de pertencerem a esta pátria, que ainda tem muito para ser consolidado e assegurado.

Tudo depende de como olhamos o conjunto da realidade brasileira.  É um país onde podemos viver com liberdade e responsabilidade, ou é um país para ser explorado, levando daqui suas riquezas, podendo ser abandonado sem compromisso?

Dá para entoar a história do Brasil em sucessivos “ciclos”, todos eles marcados pela exploração.  O ciclo do “pau brasil”, da cana de açúcar, da mineração, do café, da industrialização, até esta nossa época da financeirização do capitalismo, em que a pátria dos grandes capitais é a garantia de tirar proveito até das crises econômicas para assegurar ainda mais os seus ganhos.

Vale lembrar que a VALE foi a primeira grande empresa a ser privatizada. Não se passaram vinte anos, e o rompimento da barragem de Mariana mostrou bem quais foram seus critérios de investimento: não foi certamente a preocupação com o meio ambiente!  E agora, em meio a este ensaio de “plano econômico” mirabolante, já vai surgindo, à surdina, a proposta de uma adequada, refinada, higiênica privatização da Petrobras. A Petrobras se constitui no baluarte de nossa soberania nacional. Seria irresponsabilidade calar diante desta ameaça. É forçoso denunciar esta nova tentativa de privatizar a Petrobras.

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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