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O Beato Paulo VI ensinou que a política é a mais alta forma do exercício da caridade, porque é um serviço prestado a um povo, que delegou a alguém poderes especiais na busca do bem comum. O mesmo ensinou S. João Paulo II em suas viagens ao redor do mundo, lembrando aos homens do poder que eles estavam ali a serviço do povo, para o bem da comunidade humana, e não para seus interesses pessoais.
Alguns pensadores são bem severos em suas apreciações sobre a política e os políticos. D´Alembert em suas Mélanges de litérature ensina que a guerra é a arte de destruir os homens, da mesma forma que a política é a arte de enganá-los. Maurice Barrès proclama que a política não é assunto próprio de filósofos e moralistas, porque é a arte de tirar de uma situação embaraçosa a melhor escolha possível. Já o conhecido Otto Von Bismarck disse: “A política não é uma ciência, como muitos professores imaginam, mas sim uma arte.” L. Dumur em seus Pétits aforismes denuncia que “a politica é a arte de servir-se dos homens, fazendo-os crer que se serve a eles.” Já Walter B. Pitrin em sua obra The twilight of the American Mind é muito severo e pessimista ao afirmar: “Os políticos são gente semifracassada em seus negócios particulares e profissões. São homens de mentalidade medíocre, moral duvidosa e portentosa vulgaridade.”
Mas temos também alguns exemplos de políticos notáveis pela seriedade de comportamento.
Começo com o brasileiro Adroaldo Mesquita da Costa. Foi aluno dos jesuítas de Porto Alegre, onde nasceu em 1894 e onde morreu em 1985. Deputado constituinte em 1946, foi Ministro do Interior no governo Dutra de l947 a 1950. Também jornalista, fundou o Diário de Notícias de Porto Alegre. Notabilizou-se pela retidão de caráter e integridade de conduta.
Jorge La Pira foi prefeito de Florença, em dois períodos do agitado pós-guerra italiano, de 1951 a 1957 e de 1961 a l965. Cognominado “o prefeito santo”, já tem em seu processo de beatificação o título de Servo de Deus.
Outro político cristão notável da Itália é Igino Giordano (1894-1980). Foi bibliotecário da Biblioteca Vaticana e com Chiara Lubich é o fundador do Movimento dos Focolares, onde viveu a política de comunhão. Ativo na política italiana, após a segunda guerra mundial, participou como deputado da Assembleia Constituinte, que deu forma à república italiana. Definia a política como “a caridade em ato”. Tinha no Movimento o nome de Foco. Faleceu em Rocca di Papa na casa dos focolarinos. Também está em curso seu processo de beatificação e canonização.
Temos ainda no Brasil um exemplo de integridade moral e visão esclarecida do bem comum. Curiosamente, seu nome completo era João Augusto Fernandes Campos Café Filho mas ficou conhecido apenas por Café Filho. Nasceu em Natal – Rio Grande do Norte em 1899 e morreu no Rio de Janeiro em 1970. Era Vice-Presidente de Getúlio Vargas, pelo Partido Social Progressista, quando explodiu a grave crise, nascida do atentado a Carlos Lacerda na rua Toneleros, que matou o Major Vaz. Atribuiu-se sua origem a Gregório Fortunato, famoso e poderoso guarda-costa de Getúlio. No clima de angústia em que a nação se viu atirada, Vargas dizia que um mar de lama, invadira o Palácio do Catete, sede do governo. Foi aí que, num gesto de nobreza e verdadeiro patriotismo, Café Filho disse a Getúlio: “O que melhor podemos fazer pelo Brasil neste momento é renunciarmos. Eu garanto ao senhor que renunciarei à Presidência, logo que o senhor renunciar.” Mas, infelizmente, Getúlio preferiu “sair da vida e entrar na história” – como ele escreveu – com um tiro de revólver no coração. Café Filho foi Presidente apenas de 24 de agosto de l954 a 8 de novembro de 1955 quando foi deposto.
Quem sabe? Parece até um bom exemplo para os nossos dias…
Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.