A Nova Relação Médico-Paciente
O mundo gira e se transforma, e assim também as relações humanas. Como não poderia deixar de ser a interação médico-paciente mudou nos últimos anos.
A parceria que deve existir entre o médico e o paciente é o esteio desta relação. Hoje o paciente ja chega ao consultório sabendo, ou imaginando saber, qual a sua doença. Os meios eletrônicos de informação, Google incluído, oferecem uma gama enorme de informações médicas. Basta juntar os sintomas e pronto, já vem o diagnóstico e o tratamento, imagina-se. Mas o paciente busca também o conforto de quem o acolhe, seu médico, ao mesmo tempo em que também almeja encontrar alguém que o escute. O acolhimento, palavra e ação pela qual tenho tanto apreço, deve ser amplo e irrestrito, fazendo que o “que padece”, o paciente, sinta-se amparado e tranquilo por perceber que alguém se preocupa com seu sofrimento.
Para nós, médicos, resta ouvir e interpretar a história do doente. Não apenas resumi-lo a um órgão – um estômago inflamado, uma gastrite – mas um ser humano com gastrite. Por que a tem?, qual seu contexto de vida que o fez padecer do estômago?, quais seus hábitos alimentares?, enfim precisamos entender o paciente, não apenas sua doença. E isto demanda tempo e comprometimento. Num médico hoje se busca ouvidos, cérebro e tempo (paciência). Isto fará com que possamos entender melhor a história daquele que nos procura.
Venho de uma família de médicos. Meu avô, Ruy do Rêgo Barros, me contava que o médico dos anos 50,60, era um Deus. Ao chegar na casa de um paciente para consultá-lo as portas estavam abertas, as toalhas nas pias eram novas, o sabonete para as mãos recém-aberto e a família a aguardar ansiosamente aquele que daria o veredicto sobre o paciente, o conhecedor da verdade, o que diria o que fazer e todos ouviriam atentos e obedeceriam. Este tempo acabou! Hoje o médico é um “mortal”, igual a todos os outros profissionais e que pode – e muitas vezes deve – ser questionado, ser duvidado. A medicina não sabe tudo, daí por muitas vezes deve-se buscar a “segunda opinião” médica.
Com as informações disponíveis na grande rede o paciente e seus familiares são mais bem informados e podem – e devem- participar das decisões terapêuticas recomendadas pelo médico que o assiste. Não há espaço mais para o endeusamento do médico. Há espaço para o desenvolvimento de uma boa relação médico-paciente e médico-familiares para que, juntos desenvolvam uma linha terapêutica que seja melhor para o que sofre, sempre observando suas preferências e seus valores pessoais. Não há verdades absolutas! Há, ou deve haver, diálogo franco e aberto. O paciente e seus familiares são também atores do tratamento, que é o que afinal importa.
Obs: O autor é Médico Hepatologista
Sociedade Brasileira de Hepatologia
Recife – PE
Brasil
Publicado no Diario de Pernambuco em: 24/03/2016