Quando a professora fazia a chamada, o aluno respondia “presente” para dizer que estava na sala. Quando o padre celebra uma missa de “corpo presente”, significa que a pessoa já morreu. Quando alguém dá um presente, foi a expressão que encontrou para declarar sua amizade e ficar junto. Quando uma pessoa se apresenta, é como chegar e abrir uma porta para travar um diálogo e iniciar uma aventura de confiança.
É verdade que o aluno pode estar de corpo presente, enquanto o seu centro vagueia, fora do tempo. Assim como, um corpo morto pode representar um grito que anuncia uma vida, ainda mais presente. Da mesma forma que um “presente de grego” pode esconder segundas e terceiras intenções, a apresentação mais cortês pode não passar de uma formula ritual e empacotada de impedir qualquer entrada.
Recordo, com lágrimas, o ventilador de pilha, do tamanho de um brinquedo, que uma pessoa querida, que só dispunha de alguns trocados, escolheu para lembrar uma data na minha vida. Não era muito, nem vistoso, nem tampouco útil. Mas, guardo este presente significante pelo grau de ternura, cristalizado e em movimento, que se irradia e me alimenta sempre, sobretudo, nas horas das perguntas sem respostas.
Quando uma pessoa se entrega no presente e a presença representa a pessoa inteira, produzimos o momento mágico, onde o sabor e a vida se presentificam. E, como toda mágica, esses gestos e essas horas já não precisam de explicação porque vieram para encantar. Assim, esse abstrato tão concreto, por ser intenso, vira memória que se eterniza e contagia, porque a recordação que se torna o presente, em qualquer tempo.