A Ética tem origem e começo incertos, parecendo ter surgido no momento em que as pessoas começaram a viver em comunidades/cidades, quando então necessitaram de parâmetros e orientações para poder conviver socialmente em mínima harmonia e organização. Na dita “cultura ocidental”, a história da Ética confunde-se com a da filosofia grega, principalmente com Sócrates, Platão e Aristóteles e o vocábulo grego ethos tanto podia denotar lugar próprio do homem/aquilo que é específico do homem/morada humana quanto costumes e tradições. Com aqueles significados a Ética poderia ser considerada universal, mas com os últimos a Ética estaria associada a diferentes momentos históricos, distintas coletividades e culturas (ou, até mesmo, apenas a recortes/segmentos de um determinado grupo social em um dado instante). Portanto, seria relativa (relativismo ético). A posterior tradução para o latim (mor-mores) deu surgimento não só ao vocábulo moral como também a uma “polêmica” (ética versus moral), com diferentes autores defendendo distintas definições para os termos, inclusive a de que ambos significam o mesmo. Em nossa opinião, Ética “são” os marcos teórico-filosóficos (que podem ser agrupados como um conjunto de conceitos, princípios ou ideologias), relacionados com a existência e a experiência humana e que se tornam hegemônicos (algumas vezes por imposição) em determinado momento histórico, podendo expressar um “sentimento” coletivo e amadurecido de uma determinada comunidade, mas que também podem representar apenas visões e interesses de indivíduos, grupos ou classes dominantes. Esses marcos teóricos/filosóficos definem, justificam e valoram (do ponto de vista do bem e do mal, do certo e do errado e do apropriado e inapropriado) uma prática e conduta hegemônica (incluindo direitos, deveres e obrigações) também conhecida como Moral (que pode ser expressa em leis, códigos, mandamentos, regras, normas e convenções), que dialeticamente pode influenciar a construção de uma nova Ética, numa eterna interação e transformação. Em suma, Ética “são” os postulados teóricos hegemônicos balizadores de uma prática hegemônica (Moral) que variam de acordo com os contextos temporais e socioeconômicos indicando-nos a existência de um rico mosaico teórico-prático (pluralismo ético-moral). Entretanto, apesar de reconhecer a atual inexistência de uma única ética que balize todos os comportamentos morais da humanidade, defendemos que deveríamos tentar construir (com estratégia, ativismo, competência, diálogo, tolerância e sabedoria) uma Ética Universal onde o bem comum fosse o maior de todos os valores e a justiça, a serviço do bem comum, fosse a maior de todas as virtudes. Além disso, a valorização, o respeito (quase reverencial) e a corresponsabilidade pelo fenômeno vida cósmica (independente do qualificativo) e planetária (biosfera) deveriam estar contidos nesta ética universal que teria ainda, como o último componente mínimo de sua centralidade, o respeito e a responsabilidade com a dignidade da vida humana e com os direitos humanos, de uma maneira inquestionável, não “relativizável” e inegociável. Difícil? Bem, só o que parece impossível é digno de ser sonhado.
Obs: O autor, Prof. Dr. Aurélio Molina, Ph.D pela University of Leeds (Inglaterra) é membro das Academias Pernambucanas de Ciência e de Medicina
. Texto Publicado no Jornal do Commercio, Recife, no dia 14 de maio de 2013, página 8, seção Opinião JC.