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O mundo acaba de celebrar o 65º aniversário do dia 06 de agosto de 1945, quando o governo dos Estados Unidos jogou uma bomba atômica sobre a população civil da cidade de Hiroshima e, quase um dia depois, no 08 de agosto, detonou outra sobre Nagazaki. Até hoje, aquelas populações do Japão sofrem as conseqüências daquele horror. Imediatamente morreram milhares de adultos e crianças. Outros milhares foram feridos e, por causa da radiação, durante décadas, várias gerações nasceram defeituosas e doentes. Ao fazer memória deste acontecimento terrível, a maioria da humanidade lembrou as atuais discussões sobre a energia nuclear, provocadas pelo fato do Irã desenvolver a técnica de enriquecimento do urânio. O governo iraniano garante que faz isso para fins pacíficos (médicos e energéticos). Sob o pretexto de que os iranianos estão mentindo, o governo dos Estados Unidos e seus aliados conseguiram que a ONU decretasse pela quarta vez sanções contra o Irã. Segundo estas acusações, o plano nuclear iraniano tem em vista fins militares e o desenvolvimento de ogivas nucleares que põem em risco a segurança do mundo.
A sociedade internacional sabe que o Irã começou o seu programa nuclear nos anos 70, patrocinado pelo governo dos Estados Unidos, que, na época, sustentavam militar e economicamente a ditadura iraniana do Xá Reza Pavlevi. O governo norte-americano não dominando mais aquela região – que durante décadas obedecia a seus interesses – agora lidera a campanha contra o Irã. Conforme a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã dispõe de 2.427 quilos de urânio enriquecido a 3, 5%. Para fabricar uma bomba atômica, eles precisariam enriquecer o urânio a 90%, uma taxa muito distante dos atuais parâmetros obtidos. A ONU que condena o Irã sabe muito bem que os Estados Unidos foi o único país do mundo a detonar duas bombas atômicas contra populações civis. Sabe também que o exército dos Estados Unidos tem armazenado 5.113 ogivas nucleares declaradas. A Rússia mantém 7.200, a França tem 350 e a China conta com 320 ogivas. O próprio Israel, na mesma região do Irã, sem nenhum controle da ONU, deve ter mais de 200 artefatos nucleares. Em comparação com uma destas ogivas nucleares atuais, as bombas de Hiroshima e Nagazaki pareceriam meros foguetes caseiros e artesanais.
Conforme sérios analistas internacionais, o que está por trás de toda esta pressão das grandes potências é o interesse comercial do urânio enriquecido, do qual estas potências querem manter o monopólio. De fato, o enriquecimento do urânio é uma atividade comercial que interessa à medicina, à engenharia e sobretudo a fontes de energias limpas para a eletricidade. Aí se compreende o interesse do governo Lula em apoiar o Irã. De fato, ao realizar a função de mediador internacional do diálogo entre as nações, o Brasil se coloca como construtor de um mundo mais justo e pacífico. O nosso presidente se credencia a ser uma personagem de crescente influência internacional. E confirma nossa vocação para a paz e o diálogo. Graças a Deus, a nossa Constituição Federal proíbe terminantemente que se desenvolvam no Brasil quaisquer atividades nucleares com fins militares. Entretanto, o Brasil tem em seu território a sétima reserva de urânio do mundo e tem interesses internacionais em não deixar esta indústria nas mãos apenas das grandes potências. Já em 1952, o Brasil inaugurou o seu primeiro centro de pesquisa nuclear. Em 1981, entrou em funcionamento a usina nuclear Angra 1. E desde 2006, em Resende, RJ, realiza-se o enriquecimento de urânio, o mesmo procedimento pelo qual o Irã está sendo condenado. Infelizmente, nas relações internacionais, existe muita desigualdade e se opta pelo uso de duas medidas, uma para os amigos e outra para os que são considerados adversários.
Para quem ama verdadeiramente a paz, estas discussões internacionais soam falsas. Se governos como o dos Estados Unidos quiserem realmente colaborar para a paz do mundo, basta não invadirem o país dos outros, não pousar de xerifes do mundo, sem ter moral para isso e colaborar para que se combata a pobreza injusta e se estabeleça no mundo uma verdadeira cultura da paz. Para quem crê, o evangelho de Jesus propõe conversão permanente, de si mesmo e do mundo, assim como um discernimento crítico em relação a esta sociedade injusta para a realização do projeto divino em função de uma vida digna e justa para todos e em comunhão com o universo.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.