Dannie Oliveira 30 de agosto de 2010

www.dannieoliveira.blogspot.com
[email protected]

De repente as coisas cotidianas invadiram o lar. Entraram pelas portas, pelas janelas, pelas frestas da porta da cozinha, pelos buracos das goteiras no telhado. Estavam ali. Depois de um tempo a toalha esquecida sobre a cama resultava em uma noite no sofá. A organização das peças no roupeiro o suficiente para uma revolta.

Enquanto a observava preparar o jantar tentava encontrar naquela mulher a poucos metros a mesma criatura encantadora de sete anos antes. A bela moça de cabelos e olhos castanhos, de pele macia e sorriso fácil. Suspirou. Tudo aquilo parecia muito distante como numa outra vida. O que percebia no dia-a-dia era que a rotina cada vez mais os deixava diferentes. Mesmo apesar do tempo o relacionamento a dois é um constante aprendizado. Questionou-se se deixará de aprender. Qual seria sua parcela de culpa? Sua falha?

Com o passar dos dias as pequenas coisas tomavam proporções enormes num piscar de olhos. As chegadas e saídas tornaram-se mudas. Sem querer o silêncio acabou se impondo e passou a ser o principal visitante daquela residência. Um inquilino indesejável que teimava em permanecer ali.

Ela chorava trancada no banheiro. Tinha facilidade em proferir palavras duras e frias, mas no fundo era frágil. Somente ele não percebia isso. Às vezes o observava dormir. Contemplava os cabelos negros, os ombros largos, a boca pequena, a barba rala, a respiração cansada e profunda. Alguns homens com a maturidade despertam belezas ocultas que poucas mulheres possuem a capacidade de desfrutar. Ele era um desses e ela sentia que estava perdendo isso, por mero capricho do seu temperamento difícil.

Quando a rotina bate a porta o amor é o primeiro a ameaçar pular pela janela. Mais do que sentimento é preciso ter companheirismo para sobreviver às peculiaridades do dia-a-dia. Quando o silêncio se impõe fecham-se algumas saídas e numa situação de emergência as janelas sempre vem a convir.

Conversaram quando o divórcio despontou como alternativa. Descobriram que o diálogo é a principal ferramenta para construir um relacionamento e aprenderam a começar do zero. Depois de tantos erros, encontraram o elo perdido. O amor renasce a cada dia mesmo quando o sol não desponta no horizonte.

Obs: Imagem enviada pela autora – Foto de José Bernardo (Olhares.com)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]