Meu corpo pede o teu. Encosto-me em ti e debruço-me em teu corpo. Penetras em meu corpo e ocupas todo meu querer bem. E me permito invadir teu corpo e ficar prenhe de todo teu sentir. Tua mão acaricia meu regaço até eu produzir mel. Minha mão afaga teu pão até senti-lo forte. Nossas bocas pedem para participar do rito e saborear nossas carícias. Teu pão se lambuza de meu mel, meu mel delicia teu pão. E não sei mais se meu seio é tua mão, se minha mão é tua pele, se meu ventre é o teu. Teu olhar torna-se o meu e vejo nossos corpos pelas cores de tua retina. Ficamos assim, encharcados de nós. E, no aconchego de nosso abraço, deixamos acontecer o que tinha que acontecer.
E aqueles dois corpos formaram um só e adormeceram. E adormecidos, atravessaram o sono e os sonhos e, neles, começaram a se transformar e a se fundir e a formar uma só matéria e a ser pétala, flor, floresta e a irradiar cores, sorrisos até alcançarem um azul profundo. Já não havia dor, fome, nem cansaço, nem descanso, apenas realizavam seus destinos. E livres de amarras, foram evaporando e a diminuir, diminuir, diminuir. E se tornaram um ponto, uma gota azul dentro do mundo.
E, naquela manhã, duas almas se reconheceram naquela minúscula gota azul. E, ainda, sentido o gozo dos corpos, relaxadas, entrelaçadas, deixaram-se voar e partiram. Leves, atravessaram pontes, rios, oceanos, nuvens, céus, planetas, tempos, galáxias e universos. E, azuis, encontraram um canto para, novamente, praticarem o exercício do querer bem. E sorriram. Tornaram-se uma só e desapareceram. Quem sabe, sejam uma nuvem branca, num dia de outono, a emoldurar o azul do céu.