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 Há muitos anos, lendo Casa Grande & Senzala, me chamou à atenção o número imenso de bigodes e de barbas que Gilberto Freire expunha, em termos de ilustração, calcando-se em livro específico sobre a matéria, intitulado, salvo engano de memória – a leitura foi efetuada há quase dezoito anos -, de História da Barba e do Bigode em Portugal. Mais ou menos, assim. Não afirmo com absoluta certeza. O certo é que o livro, na diversidade da barba e do bigode, me mexeu na curiosidade escondida, sem chegar a se constituir em uma novidade, sobretudo porque, na história do Brasil, a partir do Segundo Império, exóticas e estranhas barbas são exibidas, costume que, por certo, predominou até o início dos tempos republicanos. Só para exemplificar, cito alguns dos nossos heróis, como Caxias, Tamandaré, Pedro II, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, entre os que me vem à tona.

Pois bem. Numa rápida passagem, em julho passado, por quatro cidades alemãs [Munique, Frankfurt, Colonia e Deussedorf], me impressionaram as variadas e múltiplas formas de bigodes e barbas nos locais, sempre agregados ao centro histórico, por onde passei. Barbas e bigodes que só as tinha visto, até agora – e olhem que não sou tão novo assim como a aparência demonstra -, nos livros de história. Infelizmente, não podia, de cada um, pedir um minuto de licença, para fotografar o portador. Sem dominar o idioma de Goethe, não me arrisquei, me limitando a observar, ora  a barba completa, incluindo o bigode, ora só o bigode, inclusive os retorcidos, com as pontas em meandros bem cultivados, das tantas e tantas pessoas com que me deparei, nas formas mais estranhas que a imaginação pode trabalhar.

Mas, foi em Lisboa que vi o que considerei o máximo: a barba, de tão grande, exigia de seu portador o uso de uma Maria Chiquinha. No cabelo, parece adequado. Mas, na barba, a encarei como uma grande e espantosa novidade, a barba, bem aberta, cabelos secos e um tanto retorcidos, como se o portador tivesse visto um fantasma, e, lá embaixo, a Maria Chiquinha a prender a parte última, como se fosse um molho de coentro amarrado, desses que se vende em feira. Faltou, é verdade, a foto para compartilhar minha visão com o leitor amigo. Uma pena – Correio de Sergipe, 05 de dezembro de 2015.

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Obs: Publicado no Correio de Sergipe
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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