Há um quê de contradição no ar que entra pela minha janela. Sopro de um novo tempo em cenários ultrapassados. O mundo mergulhado em crises, crises e crises é o que vejo. No espaço inadequado, crianças aguardam o divino momento em suas mães assustadas, amedrontadas por não enxergarem a luz na hora que se aproxima. No ambiente ao lado, hidratação em copos descartáveis é oferecida aos (im) pacientes que fizeram o mal encontro com o famoso mosquito. Profissionais sobrecarregados misturam-se às angústias do fazer possível que não atende à necessidade de quem anseia por cuidados, quer seja na hora de nascer ou para aliviar as dores e febres provocadas por quem, sem nenhuma dificuldade, nasce em berços descuidadamente bem preparados, em qualquer gota d’ água, nos incontáveis lugares que lhe são reservados.
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Relembro tantas outras crises pelas quais já passei e sorrio: dessa vez consigo observar sem me afundar no mundo subterrâneo, descorado e insalubre que deteriora a qualidade de vida. Alienei-me? Penso que não. A superfície me ajuda a vislumbrar saídas, novos rumos que, embora demorem, estão a minha frente, eu sei. Por enquanto, vou fazendo as mudanças que posso. Nesse espaço em que brinco com as letras, gosto de abusar das possibilidades de cores e formatos. Talvez isso revele um pouco do que eu trago na essência do meu jeito de ser: um jeito inquieto que abriga um corpo “quieto”, numa desarmonia, na constante busca pela sintonia.
Obs: Imagem da autora.